Peças egípcias expostas no Porto foram trocadas com a Alemanha

Colecção de arte egípcia exposta na UP foi “moeda de troca” com a Alemanha, depois do fim da Primeira Guerra Mundial

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Nelson Garrido

Até chegarem à Reitoria da Universidade do Porto (UP), as cerca de cem peças que compõem a "Colecção Egípcia do Museu de História Natural da Universidade do Porto" têm uma história que envolve espólios confiscados durante a Primeira Guerra Mundial, navios alemães capturados no rio Tejo e trocas entre nações.

Luís Manuel de Araújo, egiptólogo e comissário da exposição, conta ao JPN a história do acervo egípcio pertencente ao Museu de História Natural da UP, cedido pelo Museu de Berlim em 1926. A exposição está patente, pelo menos, até Março de 2012, mas a instituição quer fazer desta uma mostra permanente.

Em 1914, aquando do início da Primeira Guerra Mundial, um barco alemão chamado "Cheruskia", juntamente com outros 70 barcos alemães e austríacos, "acolheu-se às águas tranquilas e neutrais do rio Tejo". Portugal era, à data, um país neutral face ao conflito. Mas, em 1916, esse estado de neutralidade foi alterado e os barcos foram confiscados pelo Porto de Lisboa.

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Colecção Egípcia do Museu de História Natural da UP Nelson Garrido

Acordo luso-alemão em 1926

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Colecção Egípcia do Museu de História Natural da UP Nelson Garrido

"O governo português viu-se na posse de 70 barcos, um dos quais tinha lá dentro um lote considerável de objectos históricos: 400 caixas de antiguidades assírias, uma civilização da antiga Mesopotâmia que hoje é o Iraque", explica Luís Manuel de Araújo.

Terminada a guerra, a Alemanha não descansou enquanto não conseguiu recuperar as peças assírias, transferidas de um armazém da alfândega para a Universidade do Porto em 1921. Seria preciso esperar até 1926 para os dois países chegarem a acordo.

"Os caixotes com as peças assírias eram devolvidas à Alemanha e esta, em troca, oferecia a Portugal uma colecção de 134 peças", das quais 103 são, segundo o egiptólogo, "um belo exemplo da produção artística e utilitária do Antigo Egipto".

Há escaravelhos, amuletos, um sarcófago imponente, vasos até de vísceras e uma máscara funerária. Mas a sequência que Luís Manuel Araújo destaca é a das estatuetas funerárias, "cuja missão era muito simples e, de resto, tipicamente egípcia”. Foram feitas para "trabalhar nos campos do Além, do outro Mundo – que é uma invenção egípcia".

"Estamos perante algo que é a grande mensagem da exposição", conta o egiptólogo, referindo-se à ideia de que existe uma outra vida. "Esta civilização vive bastante na base de algo que é muito simples de dizer, mas talvez difícil de compreender: a fé."

A mostra pode ser visitada entre as 10h00 e as 18h00, de segunda a sexta-feira, na Sala de Exposições Temporária da Reitoria da Universidade do Porto.

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