O mundo de António Gonçalves não é assim tão diferente do nosso. Também é diário, também aparece nas primeiras páginas dos jornais, também tem entradas e saídas, reformas e remodelações, alegrias e rupturas.

A grande diferença no mundo dele são os desenhos a pincel e tinta da china. Ao longo do ano de 2008, o artista plástico – também director artístico da Fundação Cupertino Miranda de Vila Nova de Famalicão – comprou o jornal, digeriu a informação e desenhou as imagens que fizeram manchete.

“Escolhi a imagem que faz a capa, a mesma que no dia seguinte perdeu toda a sua força”, explicou ao P3 o autor do blogue "Possibilidades", onde faz coincidir posts de 2011 com desenhos de 2008 como se os dois anos fossem universos paralelos.

Antes e agora há assuntos por resolver com a região autónoma da Madeira, há países que conquistam a independência, há governos com pontos de interrogação, há inflação, há contas de subtrair, pobreza e desigualdade e uma crise financeira mundial.

Manchetes via CTT

No dia 3 de Janeiro de 2011, António Gonçalves deu início à segunda fase do projecto. Imprimiu as suas versões para diariamente as enviar por correio a pessoas “maioritariamente desconhecidas”, rotina que pretende manter até ao dia 3 de Janeiro de 2012.

“Lanço uma questão temporal, pois estão a receber imagens de há dois anos, incentivando a uma revisitação”, sublinha o artista que interpretou as capas dos jornais do seu dia-a-dia ("noventa por cento" PÚBLICO, entre diários como o "Jornal de Notícias", o "Diário de Notícias", o "Libération", o "Le Figaro", o "Le Monde", o "El País"...)

Estamos em 2011. Estamos em 2008. Em Agosto Bolt só partia depois do disparo e era o homem mais rápido do planeta. Em Junho a gasolina e os supermercados estavam perto da ruptura e em Julho chegava a Portugal o iPhone 3G. Em Setembro ganhava força o furacão Gustav. Em Maio a maior enchente de sempre do Rock in Rio pertencia a Amy Winehouse...