Ettore Scola põe um ponto final na carreira de realizador

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Realizador italiano não se sente bem com as condições de trabalho do cinema actual Daniel Rocha

O surpreendente anúncio aconteceu quando o jornalista do “Il Tempo” perguntou a Scola pelos seus próximos projectos, ao que o realizador responde: “Não haverá mais. Decidi não realizar mais filmes”.

“Estava prestes a realizar um filme com Gérard Depardieu. Estava tudo pronto mas depois senti que já não fazia sentido fazê-lo. Foi uma decisão natural”, disse ao jornal o cineasta de 80 anos, explicando que não se quer tornar numa “dessas senhoras de idade que usam saltos altos e batom nos lábios para ficarem com os jovens”.

Ettore Scola, um dos realizadores dos grandes clássicos italianos rodados nos estúdios Cinecitta em Roma, a par de Federico Fellini, Roberto Rossellini e Vittorio de Sica, explicou não estar mais sincronizado com a indústria cinematográfica.

“A minha experiência no mundo da realização já não é o que costumava ser: descontraída e feliz. Hoje há lógicas de produção e distribuição com as quais eu não me identifico”, contou o realizador, acrescentando que no cinema é fundamental ter liberdade de escolha. “Estava a começar a sentir-me obrigado a respeitar regras que não me permitiam sentir livre.”

Para Scola, actualmente é a lógica do mercado que domina a indústria cinematográfica, perdeu-se o medo de arriscar e de experimentar, já não há lugar para a criatividade como antigamente. “A crise económica ainda veio agravar mais a situação”, atesta. “Tendo em conta a minha idade, sei que fiz o que devia. Não me arrependo de nada. Trabalhei sempre com uma grande liberdade. Numa certa altura, chega o momento em que o melhor a fazer é retirar-me”.

Ettore Scola nasceu a 10 de Maio de 1931, em Trevico, Itália. Depois da Segunda Guerra Mundial foi viver para Roma, onde estudou Direito. Contudo, o gosto pela escrita criativa e pelo cinema foi mais forte e, em 1953, iniciou a sua carreira na indústria cinematográfica como argumentista, depois de ter trabalhado como humorista em algumas revistas. Durante cerca de dez anos, Scola contribuiu com material para inúmeros filmes de Dino Risi e de outros realizadores, tendo colaborado frequentemente com Ruggero Maccari, destacando-se desta parceria a comédia “Il Magnifico Cornuto” (1964), com Claudia Cardinale. Em 1964, estreia-se como realizador com o filme “Se permettete parliamo di donne”.

O sucesso internacional chegou em 1974 com “Tão Amigos Que Nós Éramos”, um retrato da sociedade italiana no pós-guerra, dedicado ao seu amigo, actor e realizador Vittorio de Sica. Dois anos depois, Ettore Scola venceu o galardão de Melhor Realizador no Festival de Cannes, com o filme “Feios, Porcos e Maus”.

Na lista dos clássicos, está ainda “Um dia Inesquecível” (1977), protagonizado por Sophia Loren e Marcello Mastroianni. O filme foi nomeado para os Óscares na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

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