Coco Chanel, a espia apaixonada
Hoje sai nos Estados Unidos mais um livro sobre as suas ligações à Alemanha de Adolf Hitler. Em “Sleeping With the Enemy, Coco Chanel Secret War” (Knopf, 2011), do jornalista especializado em Segunda Guerra Mundial Hal Vaughan, volta a falar-se sobre o facto de Chanel ter sido uma espia nazi e de ter alinhado sem reservas ao lado dos homens do führer durante a ocupação em França, mantendo privilégios bem conhecidos (como a suite no Hotel Ritz, que à data era reservada aos mais altos funcionários de Berlim) e uma relação com o barão Hans Günther von Dincklage, reputado agente alemão condecorado por Joseph Goebbels, o ministro da propaganda, e pelo próprio Hitler.
Segundo o site americano The Daily Beast, o novo livro de Hal Vaughan explica ainda por que razão não foi Chanel condenada como colaboracionista no fim da guerra – graças à sua amizade com o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, escreve o jornalista – e porque estava ela tão próxima da elite alemã que se instalou em Paris. “[Chanel] tornara-se rica, fazia-se apreciar entre os mais ricos e com eles partilhava o ódio aos judeus, aos sindicatos, aos maçons, aos socialistas e ao comunismo. Desde 1933 que considerava que Hitler um grande europeu”, escreve o autor britânico Michael Korda no “Daily Beast”.
Westminster, nome de código
Coco Chanel (1883-1971) terá sido recrutada para trabalhar para os serviços secretos do Eixo em 1940, recebendo o nome de código Westminster (o duque de Westminster era seu amigo e, por vezes, seu amante). Terá sido Von Dincklage o responsável pela sua aproximação aos serviços secretos germânicos. Por sua vez, Chanel ter-lhe-á sido muito útil à sua integração na alta-sociedade, que muito tinha a perder se fizesse frente ao regime do marechal Pétain, conivente com os alemães que ocupavam o país desde Junho de 1940.
Chanel, lembra Korda, faz parte de uma longa lista de criadores e intelectuais que colaboraram com o governo de Vichy e em que merecem destaque a cantora Edith Piaf, o actor Maurice Chevalier, o poeta, dramaturgo e cineasta Jean Cocteau ou o bailarino e coreógrafo Serge Lifar. Sublinhando que ela era “ferozmente anti-semita” antes de isso ser uma vantagem em território francês, o escritor britânico defende que a criadora era, “politicamente, demasiado ingénua para perceber quando estava do lado dos que iam perder e para fazer uma transição suave da total colaboração para uma colaboração relutante, um entusiasmo por De Gaulle e os Aliados”.
Elogiando o trabalho de investigação de Hal Vaughan, Michael Korda garante ainda que “Sleeping With the Enemy” traça com grande vivacidade o percurso de Coco Chanel desde o seu nascimento numa família de camponeses muitíssimo pobres até ao trono da moda francesa, fazendo ao mesmo tempo o retrato de uma sociedade que ela ajudou a moldar, com a sua simplicidade e elegância, sem esquecer os rumores e boatos de bastidores que muito contribuíram para o mito que começou a construir-se nos loucos anos 20.
Quando morreu, no início da década de 70, Coco Chanel era há muito um tesouro nacional. Sobrevivera a um exílio de nove anos na Suíça pós-1944 e fizera um regresso triunfante a Paris, conquistando também as passerelles em Londres e Nova Iorque. Muitos não lhe perdoaram a “traição”, mas a maioria elevou-a à categoria de imperatriz do gosto, tão arrebatadora aos 20 anos como aos 80. E sempre apaixonada.
Notícia corrigida às 12h16 de 16 de Agosto