Palmas e assobios no acto final do News of the World

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O director do jornal, Colin Myler (ao Centro), ergue um exemplar do News of the World, quando os jornalistas deixam a redacção Foto: Paul Hackett/Reuters

De manhã, o director disse-lhes: “Não merecemos isto.” Aos que esperavam deu curtas declarações. “Foi um dia muito difícil”. Depois concluiu: “E agora vamos para o bar.”

O jornal que existe há 168 anos e que era um dos mais bem sucedidos do grupo de Rupert Murdoch vai fechar domingo em sequência do escândalo das escutas telefónicas que está a abalar o Reino Unido.

Na redacção e à volta dela o dia de sábado foi longo. Às 11h da manhã, ninguém à porta do News of the World. Apenas um segurança a pedir aos jornalistas que se aproximam para não incomodarem quem quer fazer o seu trabalho: escrever a última edição do jornal, um dos semanários com maior circulação no Reino Unido (entre 2,6 a 2,8 milhões).

Alguém esteve aqui antes de chegarmos e deixou um ramo de flores junto à porta rolante, margaridas e outras espécies que não identificamos, mas são cores embrulhadas em papel castanho claro - muito provavelmente para assinalar o funeral do News of the World. Um homem passa, apanha-as e dá-as à namorada. O segurança pede: “Vá para ali”, e aponta para o fim da rua onde está um par de jornalistas, câmaras e fotógrafos, à espera de um Rupert Murdoch que não chegará.

O clima na redacção é obviamente emocionado, diz mais tarde Alan Edwards, chefe dos sub-editores. Mas “muito profissional, como sempre”. “Estamos muito ocupados.” Visivelmente emocionado, com a voz a tremer quando diz pela primeira vez aquilo que repetirá para cada novo grupo de jornalistas, Edwards comenta: “Ainda estamos muito chocados e tristes. Mas acima de tudo somos jornalistas e estamos orgulhosos do que fazemos. Há centenas de jornalistas ali que não têm absolutamente nada a ver com as coisas que podem ter corrido mal no passado. São pessoas decentes, trabalhadoras, brilhantes.” Tarefa para hoje? “Estamos a tentar fazer a melhor edição final deste jornal icónico que toda a gente leu a certa altura.”

David Wooding, editor de política, admitirá mais tarde que os jornalistas do News of the World se sentem “um pouco traídos pelos que trabalharam ali antes: as pessoas que aqui estão não têm nada a ver com isto”. “Viemos há cinco anos para mudar o News of the World depois das escutas feitas por jornalistas que já cá não estão. Um dos meus colegas disse: 'nunca as carreiras de tantas pessoas foram afectadas pelas acções de tão poucos'.”

Já à noite, depois das portas do NoW fechadas, e no bar onde a Sky News transmite um especial dedicado ao tema, Trisha Harbord, editora de viagem, desabafa: “É devastador e trágico. Estamos a pagar um preço que é difícil acreditar.”

A meio da tarde, uma equipa do News of the World distribuiu simpaticamente chá e café em canecas vermelhas com o seu logótipo aos jornalistas que se vão acumulando no Thomas More Square. Será que isto vai ficar para a posteridade como memorabilia, pensamos ao olhar para a nossa? Às tantas ainda pode ser que Murdoch transforme isto ou outros objectos numa fonte de merchandising, às tantas a decisão de fechar o News of the World ainda foi o melhor para rentabilizar a marca…Habituado a dar notícias, o jornal que não pára de fazer manchetes e rende 100 milhões de dólares a Murdoch, sai hoje sem publicidade paga - cedeu o espaço a empresas de caridade. Alguns media diziam de manhã que na redacção se escrevia com lágrimas nos olhos. O director confirmou isso mesmo: houve lágrimas e risos também. Depois de uma tarde em silêncio, no pub, jornalistas do
NoW falam com outros jornalistas. “Ser notícia? É errado, devia ser ao contrário: devíamos estar a escrever notícias.” Às 22h30, a festa continua. O que lhes acontecerá depois disto?

Notícia actualizada às 22h56
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