valter hugo mãe foi "tsunami" que passou pela Festa Literária Internacional de Paraty
O escritor português valter hugo mãe sonhou sempre vir ao Brasil e veio várias vezes. Faltava-lhe vir "como escritor, publicado e recebido". Ontem teve a sua estreia na FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty e foi um verdadeiro maremoto. Aplaudiram-no de pé. Choraram com ele quando se emocionou ao ler uma "Carta para a FLIP", um relato sobre a sua relação como o Brasil, escrito horas antes do debate em que participou.
No final, foram pedir a valter hugo mãe, o único escritor português a participar este ano na FLIP, a decorrer no Brasil até domingo, para serem fotografados ao pé dele. Algumas mulheres diziam-lhe que se não fossem casadas, casariam com ele. Uma multidão esperou na fila, que dava muitas voltas, para que ele autografasse os seus livros que já estão publicados no Brasil: "a máquina de fazer espanhóis" e "remorso de baltazar serapião". Nasceu uma "pop star". Uma leitora, à espera na fila, disse ao PÚBLICO: "fez todo o mundo chorar, adorei o carisma dele". Uma outra ali ao lado confessava: "Gostei de tudo. Ele me pegou na primeira frase dele: 'A morte deveria apagar os nossos sofrimentos'".
José Saramago disse que valter hugo mãe era um "tsunami literário" quando o escritor venceu, em 2007, o prémio com o nome do Nobel português. O que se assistiu ontem na maior festa literária brasileira foi da mesma ordem de grandeza. A tarefa do escritor português não era fácil. Primeiro, porque a sua mesa estava marcada para o meio-dia, quando Paraty ainda está a acordar depois das festas e "baladas", com muita cachaça e samba que animam as noites do festival literário que recebe escritores de todo o mundo (este ano participam James Ellroy, João Ubaldo Ribeiro, Joe Sacco, David Byrne, Héctor Abad,etc). Segundo, porque teria que dividir o palco com a escritora argentina Pola Oloixarac, que foi considerada pela revista britânica Granta um dos nomes da nova geração de romancistas da língua espanhola e tem sido considerada pela comunicação social como "a musa da FLIP", graças à sua beleza e fotogenia. Ela está a lançar o romance "As Teorias Selvagens", que este mês também foi para as livrarias portuguesas.
A conversa entre os dois escritores, que também leram excertos das suas obras, foi mediada pelo jornalista mexicano do The Financial Times, Ángel Gurría-Quintana, que depois de lhes pedir para falarem das suas obras, do processo de escrita, das influências recebeu perguntas do público. Uma delas pedia aos escritores para falarem da sua relação com o Brasil. E então, valter hugo mãe pediu para ler um pequeno texto, uma carta que tinha escrito para a FLIP, e que começava assim: "Quando eu tinha 8 anos veio morar para a casa ao lado da dos meus pais um casal de brasileiros com duas filhas moças. Ao chegar, o casal ofereceu uma ambulância ao quartel de bombeiros da nossa vila e toda a vila se emocionou. Foram os primeiros brasileiros que eu vi fora da tv, fora das novelas. Eu e os meus amigos fomos ao quartel dos bombeiros apreciar a ambulância nova, bem pintada, que se mostrava a todos como prova bonita da bondade de alguém. O meu pai tinha um carro pequeno, velho, difícil de levar a família inteira dentro. A ambulância era enorme, um luxo, como se fosse para transportar doentes felizes. Eu e os meus amigos ficamos estupefactamente felizes."
O autor emocionou-se ao ler o texto, o público que pagou bilhete para assistir à conversa também e assim nasceu uma pop star das letras. No final da sessão, o editor da Cosac Naify, Cassiano Elek Machado, enviou uma ordem para a editora: "Mandem imprimir mais". É que a FLIP "tem esse poder, quando um cara pega". E valter hugo mãe pegou de caras este desafio.