Como pôr os portugueses a reutilizar o que já não precisam

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Maria Pinedo e Filipe Saraiva Foto: Pedro Cunha

"Portugal é muito mais do que os dez milhões de residentes que o habitam, somos um povo espalhado pelo mundo", diz e acrescenta que esta mais-valia deve ser aproveitada, de maneira a encontrar soluções melhores para o país. Numa colaboração entre portugueses residentes e os que estão fora, a iniciativa Faz (do verbo "fazer") - Ideias de Origem Portuguesa pretende assim promover uma "responsabilidade social" e um "exercício de cidadania activa", em resposta às necessidades sociais nas áreas do ambiente e da sustentabilidade, da inclusão social, do diálogo intercultural e do envelhecimento. A única condição para participar no concurso é que haja, no mínimo, um residente em Portugal e outro no estrangeiro dentro da equipa.

As duas fundações reuniram um júri para tratar das mais de 200 candidaturas e escolher os dez finalistas. Depois, essas equipas contaram com o apoio do Instituto de Empreendedorismo Social (IES), em encontros participativos, através dos quais foram ensinadas práticas de empreendedorismo e de inovação social.

Uma das dez equipas finalistas vem da vizinha Espanha pelas mãos de Pedro Saraiva, de 34 anos. Fora do país por motivos profissionais, o consultor explica que o Dou.pt surgiu numa "conversa de café". "A placa gráfica do computador do meu pai avariou. Uma nova custava quase tanto como um computador". A partir deste facto, surgiu a ideia: "Existem bens que acabam por ir para o lixo ou que são guardados em casa, no sótão ou até no meio da sala, esquecidos e a ocupar espaço". Podiam ser reutilizados por outras pessoas que necessitam deste ou daquele equipamento.

O conceito é simples, consiste na criação de uma plataforma nacional de doação de objectos reutilizáveis onde qualquer cidadão, empresa ou organização pode afixar publicamente a intenção de se desfazer de artigos indesejados. Quem estiver interessado contacta o dador e "negócio fechado com um gesto de cidadania."

A equipa fez algumas contas com base nos dados da Agência Portuguesa do Ambiente e constataram que a poupança "é imensa em termos nacionais". É uma forma de "transformar o desperdício e a acumulação de resíduos" numa "solução elegante" de desenvolvimento e qualidade de vida, descreve.

Os membros da equipa - também composta por Filipe Saraiva, de 32 anos, e Maria Pinedo, de 35 anos - tecem largos elogios ao seu projecto. Este permite aproximar "cidadãos, entidades e comunidades", "desencadear a responsabilidade social" de cada um, fomentar o desenvolvimento sustentável e, seguramente, proteger o ambiente, evitando o amontoar de resíduos, tanto dentro como fora de casa. E o projecto engloba objectos tão simples como livros ou revistas: "Sou da opinião de que um mesmo livro pode ser lido por 15 ou 20 pessoas. Depois de o ler, em vez de ganhar pó em cima de uma prateleira, exponho no site e já pode ir para outra pessoa", exemplifica Pedro.

A ideia já tem perto de um ano e a equipa decidiu apresentá-la à Fundação Calouste Gulbenkian, através de uma carta. Foram assim integrados no projecto Faz e esperam ganhar o prémio final de 50 mil euros para financiar o site que se propõem criar. O projecto é auto-sustentável, já que apenas precisam de um "investimento inicial" para a criação da plataforma online, explicam. Se tal não acontecer, não vão baixar os braços. Pelo contrário, vão "arregaçar as mangas" e procurar outros meios de financiamento e de apoio, afirmam.

Luísa Valle explica que os 50 mil euros previstos para a equipa vencedora "não é bem um prémio", mas antes uma "comparticipação ou financiamento para que o projecto seja executado em Portugal". A directora do programa garante que a ideia vencedora vai ser acompanhada "numa primeira fase de incubação e na instalação do projecto".

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