Seguro tem apoio da maioria dos líderes das distritais do PS

Foto
Seguro conseguiu rapidamente pôr líderes distritais a declararem apoio à sua candidatura Miguel Manso

Em três dias, o frenesim disparou no PS. Depois da despedida de José Sócrates, apenas a gestão da herança parece dividir apoios entre os candidatos à sucessão. Francisco Assis vai para a estrada já para a semana e promete percorrer o país inteiro, numa aproximação às estruturas locais em contra-relógio. E vai contar na campanha com o apoio de António Costa, que poderá ser proposto por Assis e pelos seus apoiantes para presidente do partido. Olhando para o futuro.

Com um trabalho de campo junto dos militantes encetado à distância, António José Seguro conseguiu, de um dia para o outro, pôr a maioria dos líderes distritais a produzirem declarações públicas de apoio à sua candidatura. Em catadupa. Mais do que colher apoios, que na sua maioria estariam já garantidos, a estratégia terá sido a de barrar caminho à entrada da candidatura de Assis. Os dois têm um mês para fazer valer os seus argumentos. E conquistar votos.

Das 21 federações socialistas, os presidentes de 11 anunciaram que querem ver Seguro como secretário-geral, enquanto Assis reuniu, para já, o apoio declarado de três. Das restantes, quatro (Açores, Viseu, Guarda e Castelo Branco) dizem estar ainda em período de reflexão e as outras três (Madeira, Portalegre e Vila Real) não se manifestaram ainda. Tentando suster a investida de Seguro, as tropas de Assis chamam a atenção para o facto de Lisboa e Porto poderem representar cerca de 40 por cento do universo eleitoral, o que significaria, portanto, que ainda há muita água para correr antes do desfecho eleitoral.

O certo é que mesmo no Porto, a distrital de onde Assis é originário, as hostes estão divididas. José Luís Carneiro, ex-chefe de gabinete de Assis e que lhe é muito próximo, fez questão de assumir já publicamente o apoio a António José Seguro. Disse querer "honrar um compromisso de apoio a alguém que deseja que o PS volte a trazer a esperança num futuro melhor para todos os portugueses".

Mas a questão parece cruzar-se com a divisão resultante das últimas eleições na federação portuense, às quais se apresentou. Então, Carneiro perdeu para Renato Sampaio, um dos principais estrategas da candidatura de Assis, mas garantiu mais de 40 por cento dos votos. O seu grupo, que se tem assumido como oposição, esteve reunido na noite da apresentação da candidatura de Assis e, ao que o PÚBLICO apurou, mostrou-se maioritariamente partidário do projecto protagonizado por António José Seguro.

A gestão da herança

Ao lado de Assis, está Capoulas Santos, o presidente da distrital de Évora. Entende que "é o candidato que está em melhores condições políticas para liderar o partido no novo ciclo". Convencido de que a escolha do futuro líder não encerra qualquer confronto ideológico, entende que "Francisco Assis tem uma concepção do PS mais virada para o futuro, sem renegar o passado", enquanto Seguro "tem uma posição de ruptura mais assumida".

Com Seguro, está Vítor Ramalho, o histórico "soarista" que lidera a Federação de Setúbal e que define "a clarificação de um ideário e de um rumo de marcha que não se confunda com outro partido" como a prioridade maior para o sucessor de Sócrates. Para isso, sustenta, "Seguro está em melhores condições do que Assis", lembrando que tem "experiência governativa séria, parlamentar muito grande, europeia e partidária - um percurso muito plural que lhe deu uma coerência e uma afectividade com os militantes muito grande".

Recusando a ideia de que de um lado está a ruptura e do outro a evolução sem sobressaltos, Mário Ruivo, que lidera a Federação de Coimbra, diz que "é um erro pensar-se que um candidato segue a liderança de José Sócrates e o outro a ruptura". "António José Seguro dá garantias de diversidade de pensamento e de uma liderança focada na unidade do partido", defende.

Na mesma linha, o líder da distrital de Aveiro, Pedro Nuno Santos, considera que o PS tem de fazer uma análise crítica das razões que conduziram à derrota eleitoral e vê em Seguro aquele que se apresenta em melhores condições "sem renegar o histórico do partido". "Precisamos de iniciar um novo ciclo e Seguro traz essa nova frescura ao PS", assegura. Mota Andrade, o líder da distrital de Bragança, também apela a uma reflexão profunda e acredita que Seguro poderá protagonizar uma liderança plural e que restabeleça os laços de afectividade com os militantes. Mas vai mais longe. Considera mesmo que o candidato "está melhor posicionado para o diálogo com o futuro Governo" e para colaborar na execução dos compromissos assumidos pela troika.

A sombra de Costa

À catadupa de declarações dos líderes federativos, a candidatura de Francisco Assis respondeu com a divulgação de uma lista de apoios, na qual avultam presidentes de câmara, deputados e outros dirigentes do partido. Mas também figuras da maçonaria, como António Reis e António Arnaut. Nesta primeira fase, a ideia "é consolidar apoios", adiantou Renato Sampaio, tentando depois alargar às estruturas de base. Uma dura tarefa que vai obrigar Assis a um corrupio pelo país.

Outra das apostas passa pela realização de debates com Seguro. "Será desejável que haja vários debates para esclarecer os militantes sobre os projectos políticos", afirma, em jeito de repto, Ana Catarina Mendes, a directora de campanha escolhida pela equipa de Assis. Para lá de todas as estratégias está o papel de António Costa, que convenceu Francisco Assis a assumir a candidatura. Apesar de não avançar, o presidente da Câmara de Lisboa não ficará de fora do processo.

Sinal disso foi a mensagem que enviou aos militantes, via SMS, no mesmo dia em que Assis se apresentou às directas. Agradecendo as palavras de incentivo que lhe foram chegando, explicou as razões por que não avançava já. "Só sei exercer cada função sem calculismo e como se fosse a última coisa que vou fazer na vida", escreveu. Para o bem e para o mal, Costa paira de facto sobre a candidatura de Assis e é olhado como uma mais-valia. Mas os apoiantes de Seguro têm já a resposta afinada: "Os militantes têm consciência de que o candidato não é o António Costa, é o Francisco Assis".

Sugerir correcção
Comentar