Águas mil

Lembramo-nos ainda da mini-polémica online à volta da primeira longa de Ivo Ferreira, "Em Volta" (2002), um "road movie" complacente e amador sobre um homem em busca de si próprio. Sete anos depois, o realizador insiste no "road movie" e na busca de si próprio com uma segunda longa que, apesar de estar uns quantos furos acima da sua confrangedora estreia, desbarata uma boa ideia num filme excessivamente frágil, onde as coisas parecem acontecer apenas porque sim e a credibilidade da narrativa é minada a cada instante.


No processo de encaixotar o recheio da casa familiar que vai ser vendida, um encenador de teatro encontra papéis velhos que podem lançar luz sobre o que aconteceu ao seu pai, militante anti-fascista desaparecido quando ele tinha poucos anos, e parte em busca dos antigos companheiros que possam lançar luz sobre o assunto. Mas a referência ao 25 de Abril nunca passa de um mero pretexto para lançar o "road movie", e este pelo seu lado não tem nunca sustentação narrativa para justificar a sua existência, perdido por um lado em lugares-comuns e por outro em elipses demasiado obscuras para serem credíveis.

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