Revolta árabe: Milhares nos funerais de manifestantes mortos na Síria

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Protestos no Iémen, onde na véspera morreram 52 pessoas Khaled Abdullah/REUTERS

“Quem quer que mate o seu próprio povo é um traidor”, gritou a multidão que transportava os caixões de Wissam Ayyash e Mahmoud al-Jawabra, mortos pelas forças de segurança quando participavam numa marcha para exigir democracia e um combate à corrupção.

Segundo a Reuters, a polícia lançou granadas de gás lacrimogéneo contra centenas de pessoas que, depois dos funerais, tentaram concentrar-se numa das praças no centro da cidade.

Um terceiro manifestante morto foi sepultado horas antes numa aldeia vizinha de Deraa, adiantou a Reuters.

As manifestações estão proibidas ao abrigo das leis de emergência que o partido Baas impôs ao país há quase meio século. Ainda assim, a página no Facebook de onde partiram os apelos às manifestações de ontem – intitulada “A revolução síria contra Bashar al-Assad 2011” – convocou para hoje um novo protesto, desta vez em Homs, 160 quilómetros a norte de Damasco.

“Coordenámos as nossas acções e estamos de acordo, as manifestações começarão junto à mesquita de Dalati ao meio-dia e os manifestantes deverão dirigir-se para os suks”, lê-se na mensagem posta hoje a circular na página, com mais de 50 mil aderentes.

Os protestos de ontem, depois de um tímido “dia da raiva” na terça-feira em Damasco, estenderam-se a várias cidades sírias, reunindo nalguns casos dezenas de pessoas, noutros várias centenas, como aconteceu em Deraa. O regime confirmou os incidentes na cidade. “Algumas pessoas aproveitaram uma reunião em Deraa, junto à mesquita Al-Omari, para provocar a anarquia através de actos violentos, provocando danos materiais”, noticiou a agência Sana, sem fazer referência a feridos.

Na capital, agentes à paisana dispersaram, com bastões, a manifestação organizada junto à mesquita Omíada, havendo relatos de que pelo menos duas pessoas foram presas.

Depois da revolução na Tunísia, o Presidente sírio, que em 2000 herdou o poder do pai, Hafez al-Assad, prometeu reformas políticas e a anunciou o fim da proibição ao Facebook, a que milhões de jovens sírios já acediam através servidores paralelos. Mas nem as promessas, nem o forte aparelho repressivo do regime – esta semana foram detidos vários opositores – foram suficientes para calar a contestação num país governado desde 1963 ao abrigo de leis de emergência e onde têm crescido as desigualdades – apesar do crescimento económico dos últimos anos, 14 por cento da população vive abaixo do limiar da pobreza. “Exigimos os nossos direitos, a dignidade para os sírios”, anunciaram os organizadores dos protestos.

Outras revoltasBahrein

O rei Hamad ben Issa Al-Khalifa prometeu hoje continuar a dialogar "com todos os que queiram discutir assuntos que sejam do interesse dos cidadãos" e voltou a prometer reformas políticas. Mas a oposição, maioritariamente xiita, permanece céptica, depois da violenta repressão, na quinta-feira, dos que se manifestavam nas ruas de Manamá. Pelo menos cinco pessoas morreram e sete dirigentes da oposição foram detidos pela polícia após a instauração da lei marcial no país.


O governo iemenita, controlado pela elite sunita, decidiu encurtar o período de recolher obrigatório, que passa agora a vigorar entre as 20h00 e as 04h00, anunciando em contrapartida a proibição de navegação nas suas águas territoriais durante a noite. A inédita medida irá vigorar ao longo da costa que separa o país do Irão, a grande potência xiita que o Bahrein teme possa querer intervir no país, onde se encontram já mais de mil soldados da Arábia Saudita, a quem o Governo pediu auxílio face ao agravamento dos protestos.

Iémen

O regime do Presidente Ali Abdallah Saleh ordenou hoje a expulsão dos dois jornalistas da cadeia de televisão Al-Jazira, a quem acusa de incitarem os protestos que se arrastam no país há mais de um mês no país. Ontem, 52 pessoas que se manifestavam nas ruas da capital iemenita foram mortas por disparos que a oposição atribuiu aos partidários do regime.


O Presidente lamentou as mortes, mas optou por decretar o estado de emergência no país, o que faz temer um endurecimento da repressão. Ainda assim, centenas de pessoas, na sua maioria jovens, voltaram hoje a concentrar-se na praça da Universidade, local emblemático dos protestos, para exigir a demissão de Saleh.

Notícia actualizada às 13h15
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