Se Ozon tem alguma grande habilidade, ela está na pré-fabricação (mais até do que na pre-visão) dos espectadores dos seus filmes e, sobretudo, na condução do percurso que ele deseja que os espectadores façam através dos filmes. Continuamos a dizer: Ozon é um hitchcockiano (mas um hitchcockiano barato).
"Minha Rica Mulherzinha" continua a ser isso: sinais cuidadosamente distribuídos, reenvio permanente, "referências" e cotoveladinhas, um filme que se faz pelas pistas de leitura que ele próprio cria (e sem as quais não seria nada). Não é nem mais nem menos grotesco do que outras coisas que Ozon já fez, embora, de facto, num registo cómico minimamente desempoeirado a coisa se suporte um pouco melhor. Ainda que em ambivalência: é tão fácil elogiar a maneira como Deneuve e Depardieu se prestam a brincar com o seu estatuto simbólico no cinema francês como ter vontade de gritar "basta, já fizeram isto 50 vezes, inventem lá outra coisa".