Zahi Hawass demite-se por não conseguir evitar pilhagens no Egipto
“Quando a revolução começou a 25 de Janeiro, durante a primeira semana, houve apenas algumas notícias sobre as pilhagens que estavam a acontecer: em Qantara, no Sinai, e no Museu do Cairo. Contudo, depois da queda de Mubarak, os roubos têm aumentado em todo o país, e as nossas antiguidades estão em grave perigo. Os criminosos estão a aproveitar-se da situação actual”, escreveu Zahi Hawass no seu blogue, confessando que renunciar ao cargo é a decisão correcta.
No mesmo post, Zahi Hawass escreveu uma lista com cerca de duas dezenas de sítios, divididos entre armazéns, complexos arqueológicos faraónicos e monumentos islâmicos, que foram saqueados e vandalizados desde a revolução contra o governo de Hosni Mubarak até aos dias de hoje.
No primeiro grupo, aparecem as instalações da missão arqueológica do Metropolitan Museum of Art, em Dahshur, atacadas duas vezes. Saqqara, um dos complexos arqueológicos principais de Egipto, “foi atacado sistematicamente por criminosos, os cadeados de muitos túmulos foram abertos”, afirma Hawass, denunciando a violência usada pelos criminosos, “que usam armas, reboques e atacam os polícias”.
Nos complexos arqueológicos faraónicos, a história repete-se e muitos dos monumentos egípcios acabaram destruídos. “O túmulo de Ken-Amun, em Tell el-Maskhuta, perto de Ismailia, foi completamente destruído. Era o único túmulo conhecido da 19ª Dinastia no Baixo Egipto”, escreve, acrescentando mais exemplos idênticos, como no túmulo de Ptahshepses, em Saqqara, foram roubadas pedras com hieróglifos. “Muitos dos sítios ficaram destruídos por causa da acção dos criminosos”, assegura no seu blogue.
Nos monumentos islâmicos, Zahi Hawass fala de arrombamentos e vandalismo.
Ao jornal norte-americano “The New York Times”, Zahi Hawass aponta estes acontecimentos como a principal razão para desistir do cargo, não se sentido capaz de proteger mais as antiguidades do Egipto. “Estas pessoas são como insectos, não são nada, mas o que realmente me incomoda é a situação descrita no meu blogue”.
Os especialistas na protecção de antiguidades temem que a situação se possa descontrolar mais depois desta demissão. “Estou assustado com a ideia que isto possa ser um sinal para os potenciais assaltantes que podem ver isto como o último elemento de controlo foi embora, e agora têm o caminho livre para continuarem a roubar”, disse ao “The New York Times” Karl von Habsburg, presidente da Associação Nacional de Comités Blue Shield, um organismo que protege o património cultural em zonas de conflito.
Zahi Hawass termina o seu discurso, denunciando a incapacidade das autoridades egípcias em se defenderem. “Os guardas e as forças de segurança que protegem estes sítios não estão armados e por isso são alvos fáceis para os ladroes. A polícia não tem capacidade para proteger cada um dos sítios arqueológicos, monumentos e museus no Egipto. A situação hoje está muito difícil.”