Novo bastonário dos médicos critica "cortes indiscriminados" e promete defender SNS

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José Manuel Silva criticou, por comparação, os gastos com o BPN Foto: Sérgio Azenha/arquivo

"Não permitiremos que essa qualidade seja colocada em causa e que sejam os doentes a pagar a crise económica, da qual não são responsáveis", disse José Manuel Silva, ao tomar ontem posse como bastonário da OM, numa cerimónia que contou com a presença da ministra da Saúde, Ana Jorge, entre outras figuras do sector.

O sucessor de Pedro Nunes disse que basta ler jornais para encontrar factores de "espanto e indignação" como a notícia do Expresso de 18 de Dezembro de 2010 em que se divulga que "há pelo menos cerca de 20 quadros entre ex-administradores e directores do BPN que recebem salário mas não estão a trabalhar desde meados de 2008".

"Isto é chocante, tanto mais que estão a retirar ao erário público milhares de milhões de euros para manter um banco falido, que nem a preço de saldo consegue ser vendido, ao mesmo tempo que se aumentam brutalmente os preços de algumas vacinas e transportes de doentes, se cortam em bens essenciais nos Hospitais e Centros de Saúde, com graves riscos para a saúde individual e pública", disse. Para José Manuel Silva, é "inaceitável e intolerável que sejam os doentes e a Saúde a pagar a maior fatia da crise".

O novo bastonário mostrou-se particularmente "preocupado" com os jovens especialistas em Medicina Geral e Familiar (MGF), que "recebem actualmente 1100 euros ao mês, líquidos, com alguns a serem obrigados a abandonar o SNS, a que tanta falta fazem, o que coloca em causa a qualidade dos cuidados de saúde primários e da formação futura de especialistas no SNS". "É indecifrável que o Governo esteja a importar médicos sem formação específica ao mesmo tempo que maltrata e menospreza os especialistas portugueses, nomeadamente de MGF, alguns dos quais estão a tratar da documentação necessária para a emigração", considerou.

Nas palavras de José Manuel Silva, é fundamental resolver esta "ignominiosa situação" dos jovens especialistas de MGF, sendo "incompreensível o seu arrastamento no tempo quando as soluções jurídicas são várias e são fáceis de implementar". A este propósito, lançou à ministra Ana Jorge o desafio de resolver este problema "já na próxima semana".

O novo bastonário disse pretender traçar um "novo rumo" para a OM e observou que a instituição deve ser um exemplo para o país e conquistar o respeito dos portugueses, pelo que, entre outras vertentes, irá dissecar a questão das baixas por doença e dos atestados médicos, foco de "recorrentes polémicas". "Chocou-nos a forma leviana como alegadamente alguns professores se terão recentemente referido aos atestados médicos, banalizando-os para justificar as faltas às aulas", salientou, pedindo a todos os médicos que sejam "mais exigentes e rigorosos" na emissão de atestados médicos.

Quanto ao Governo, prometeu que este irá passar a encontra uma OM "muito mais exigente, mais rigorosa e cultora de uma política de meritocracia da administração pública", para que o se preserve um SNS "forte e gerido com rigor".