Universidade do Minho é a primeira do país a anular doutoramento por plágio
A decisão do reitor da UM, António Cunha, tem por base o facto de a tese de doutoramento apresentada “não ser original” e, por isso, “não cumprir o regulamento de atribuição do grau de doutor” daquela universidade. A anulação do doutoramento tinha também sido aprovada, anteriormente, por unanimidade, pelo Conselho Científico da Escola de Engenharia. O veredicto da escola onde a tese foi apresentada teve por base um conjunto de pareceres pedidos a especialistas.
O doutoramento foi obtido em Dezembro do ano passado, tendo por base a tese Desenvolvimento Interactivo Multidimensional: Contributo para o Aumento da Competitividade das PME. O documento copiava parcialmente o trabalho Potencial Regional de Desenvolvimento de Redes Interorganizacionais, tese de doutoramento de Sérgio Masutti pela Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil, em 2005.
As semelhanças começam a encontrar-se logo no resumo das duas teses. “Nas últimas décadas, a revolução tecnológica propiciou mudanças radicais no processo produtivo, informativo e nas comunicações, forçando mudanças também radicais na economia e nas exigências dos mercados”, escreve o brasileiro. O trabalho apresentado na UM tem um início em que se percebem as adaptações ao português nacional: “Ao longo dos últimos anos, a revolução tecnológica proporcionou significativas mudanças nos processos produtivos, de informação e nas comunicações, as quais geraram consequentes alterações na economia e nas exigências dos mercados”.
Crime de fraude?Esta é a primeira vez que um doutoramento é anulado em Portugal tendo por base uma situação de plágio. As consequências para a autora da tese podem, no entanto, não ficar por aqui, uma vez que os trabalhos de investigação são acompanhadas de um compromisso de honra que atesta que aquele é um trabalho original, pelo que o caso tem também que ser comunicado ao Ministério Público por poder configurar um crime de fraude.
A aluna em causa era, desde 2006, professora adjunta na Escola Superior de Estudos Industrias e de Gestão (ESEIG) do IPP, que funciona em Vila do Conde, tendo pedido a demissão daquela instituição duas semanas após as denúncias terem sido tornadas públicas. O PÚBLICO contactou o IPP para obter uma reacção ao caso, mas a presidente, Rosário Gambôa, encontrava-se ausente da instituição.
Este caso de plágio foi denunciado em Abril, com um conjunto de denúncias anónimas enviadas à UM e ao IPP, bem como a diversos órgãos de comunicação social. A universidade minhota abriu, de imediato, um procedimento interno de averiguação do sucedido. A morosidade do processo prendeu-se com a necessidade de realizar um conjunto de diligências prévias destinadas a aferir da veracidade das informações recebidas pela universidade, justifica a pró-reitora para a área jurídica, Cláudia Viana.
A pró-reitora não esclarece, no entanto, se a situação resultou também em algum tipo de consequências para os professores da instituição que fizeram a orientação científica da tese em causa. Viana garante também que a universidade “accionou um conjunto de mecanismos para evitar a repetição de situações como esta”. “Queremos garantir a qualidade e originalidade das teses que são apresentadas”, sublinha.