Espanha poderá ser "a próxima vítima dos mercados"
O banco analisou as dívidas de cada país, bem como as necessidades e timings de financiamento do Estado e dos bancos no próximo ano, e concluiu que a Espanha poderá ser a próxima a enfrentar a pressão dos mercados e, eventualmente, a seguir o exemplo da Irlanda, recorrendo ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira.
Esta análise vem no mesmo sentido das declarações do secretário de Estado do Tesouro e Finanças. Carlos Costa Pina disse hoje que Portugal tem “conseguido resistir de forma notável à pressão dos mercados” e que esta pressão “está agora centrada em Espanha”. “Nos últimos meses os juros de Portugal ficaram estáveis, enquanto os de Espanha subiram mais de 50 pontos base”, afirmou. Ainda assim, as taxas de juro das obrigações espanholas a dez anos mantêm-se abaixo em quase dois pontos percentuais dos títulos portugueses, que não descem dos sete por cento.
De acordo com a análise do Barclays Capital, o facto de o Governo espanhol ter feito emissões de dívida modestas este ano e as amortizações que terá de fazer em 2011 fazem com que as necessidades de financiamento do país possam chegar aos 30 mil milhões de euros nos primeiros quatro meses do próximo ano. Já os bancos espanhóis vão também precisar de 40 mil milhões em financiamento.
O Barclays Capital considera que esta necessidade de financiamento global será um “grande teste” que permitirá ver até que ponto os investidores estão dispostos a ter uma exposição à dívida pública ou bancária espanhola.
O banco fala mesmo de “um substancial risco de execução” para conseguir todo esse financiamento em 2011 e deixa um outro alerta: se houver uma crise de confiança na dívida pública ou bancária espanhola, o risco de contágio à zona euro é potencialmente elevado, devido nomeadamente à grande exposição que os bancos franceses e alemães têm aos bancos e à dívida espanhola.
Em contrapartida, Portugal apresenta necessidades de financiamento do sector bancário menos concentradas ao longo de 2011, o que reduz o risco de contaminar a dívida soberana, mesmo em períodos de difícil financiamento.
Partindo do exemplo irlandês, país onde a dívida soberana não demonstrava grandes problemas de financiamento até o Estado ter apoiar os bancos, o Barclays Capital conclui que a dívida soberana portuguesa (equivalente a 83 por cento do PIB nacional) está entre as mais protegidas do contágio da dívida do sistema bancário (30 por cento do PIB). O peso do agregado destas dívidas no PIB é, aliás, inferior ao peso sentido na Grécia, Bélgica, Itália, Irlanda, Reino Unido e Espanha.
Zapatero descarta intervenção da União EuropeiaDepois de a Irlanda ter pedido ajuda à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional, aumentaram os receios de que Portugal ou Espanha sejam os próximos da linha.
Esta manhã, a edição Financial Times dizia mesmo que o Banco Central Europeu (BCE) e vários países da Europa estava a pressionar Portugal para recorrer ao fundo de resgate da União Europeia, de modo a proteger a Espanha. O Governo português apressou-se a garantir que a notícia é falsa, bem como a Comissão Europeia.
Do mesmo modo, o primeiro-ministro espanhol, Jose Luís Rodriguez Zapatero, garantiu hoje não ver qualquer necessidade de o país recorrer à ajuda europeia, como fez a Grécia e a Irlanda. De acordo com o jornal El Pais, Zapatero descarta “de forma absoluta” uma intervenção no país e argumentou que a Espanha tem uma dívida pública abaixo da média europeia em 20 pontos percentuais.
O primeiro-ministro espanhol fez ainda questão de realçar que o país está a cumprir escrupulosamente com o seu plano de redução do défice e que o seu sistema financeiro é um dos mais sólidos da Europa.
Notícia actualizada às 13h22