Súmula "ruiziana", pode ser, sobretudo aquela experiência de que cada personagem, cada vida, é um abismo. Em "Mistérios de Lisboa" progredimos, então, de queda em queda. É uma vertigem em câmara lenta. Não pela duração (cerca de quatro horas e meia de filme) mas porque Ruiz contém o seu corte e colagem surrealizante - o espectador pode deixar-se cair sem ser distraído com demasiados acontecimentos.
A primeira hora de filme, então, é surpreendente: porque quando reparamos estamos já dentro da loucura que dorme neste filme. Mas acontece que a queda vai sendo aparada ao longo das quatro horas, deixando de ser nítida a autonomia do folhetim em relação à televisão - problema do espectador, que se deixou anestesiar, pode ser; problema do realizador, que entrou em piloto automático.