Quaresma não devia regressar no meio de tanta esquizofrenia

2. A primeira tentação é crucificar Hugo Almeida, que não tinha nada que tentar imitar Madjer num lance até aí mágico e que, se tivesse sido bem concluído, deixaria Portugal com a tranquilidade de dois golos de vantagem. Podia ainda apontar-se o dedo a toda a defesa, principalmente a Miguel, que jogou com a mesma atitude com que um garoto vai a um piquenique. A estratégia e algumas opções, que fizeram de Portugal uma selecção quase sempre desequilibrada, também teriam direito a algumas setas. Mas é difícil ir logo por aí num jogo em que se olhava para o camarote principal e não se via o presidente da Federação (ausente por doença), antes um secretário de Estado do Desporto cujo desporto principal praticado nos últimos dias parece ter sido o tiro ao alvo ao seleccionador nacional e ao livre associativismo. Encafuado nas bancadas, Carlos Queiroz tentava perceber como é que se pode voar em piloto automático com tantas asas feridas.

3. Agostinho Oliveira (ou o piloto automático) apostou numa equipa de tracção à frente. O 4x2x3x1 garantia quatro unidades claramente ofensivas, arrojo explicado pelas debilidades históricas do adversário. Mas não demorou muito a perceber-se que isso esbarrava estrondosamente contra três realidades: este Chipre já sabe jogar razoavelmente e tem vários jogadores de qualidade (no ano passado, perdeu, mas marcou dois golos à Itália, em Parma); Raul Meireles e Manuel Fernandes (que até fez um jogo interessante e marcou um golo de se lhe tirar o chapéu) ainda praticamente não jogaram esta época e, por isso, não tinham rodagem nem características suficientes para funcionarem como “prontos socorros” de uma defesa à deriva. Até por isso, foi demasiado tardia a entrada em jogo de João Moutinho. Acrescente-se ainda a quantidade inadmissível de erros individuais defensivos e fica completamente pintado um quadro que teve tanto de negro como de deprimente.

3. Mas Portugal não saiu de Guimarães apenas com coisas más. Desde logo porque até teve vários momentos exuberantes em termos ofensivos, conseguindo criar oportunidades suficientes para, em condições normais, vencer uma dezena de jogos com o mesmo adversário. Numa equipa com cinco mudanças relativamente ao jogo com a Espanha no Mundial, saltou à vista o momento extraordinário que atravessa Quaresma. Os turcos acarinharam-no e voltaram a fazer dele o Mustang de que falava Boloni. Melhor até, porque colocou a sua arte sempre ao serviço da equipa. Ele, mais do que todos, merecia outro resultado. E também menos cimento à mostra no estádio.

bprata@publico.pt
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