Entre Irmãos

Há um grande filme dentro de "Entre Irmãos" que só escapa a espaços: a tragédia clássica da família destroçada e dos irmãos desavindos confrontados com o pai que desaprova de um e prefere o outro. Por si, nada de novo; mas o modo como o irlandês Jim Sheridan ("Em Nome do Pai", 1993; "Na América", 2002) o filma é algo de magistral, sobretudo nas cenas de refeição onde basta uma palavra inocente ou um olhar de esguelha para fazer explodir a tensão insuportável que se sente no ar.


Esse filme é o que eleva "Entre Irmãos" a alguns grandes momentos de cinema, com o elenco de luxo a carburar a toda a força em perfeito entrosamento. O problema é o outro dos dois filmes que aqui se esconde e que é inseparável do anterior, porque faz parte do código genético do projecto, uma "remake" do filme da dinamarquesa Susanne Bier "Brødre" (2004, inédito em Portugal). Os dois irmãos são aqui, como no original, um arruaceiro local e um militar exemplar, e o "gatilho" da situação é o desaparecimento do militar durante uma missão no Afeganistão e o modo como o irmão se torna no apoio da cunhada e dos sobrinhos.

Mesmo que a fidelidade ao original o impusesse, o lado de filme de guerra que a narrativa implica (sobretudo nestes tempos em que o envolvimento americano no Iraque e no Afeganistão é um alvo bastante assestado por Hollywood) é uma "figura obrigatória" que claramente interessa menos a Sheridan, com evidentes consequências na economia narrativa e emocional do filme. "Entre Irmãos" resulta desequilibrado, sem conseguir dar aos actores tudo o que eles necessitam para o sustentar - Jake Gyllenhaal e Sam Shepard são muito bons, Natalie Portman tem pouco que fazer com um papel ingrato, Tobey Maguire não consegue acertar no tom de uma personagem difícil. Mas quando tudo se entrosa - e não são poucos os momentos em que o consegue, quase todos quando a família se confronta - é um filme notável.

E é nesses momentos em que "Entre Irmãos" é um grande filme que lamentamos o que podia ter sido e não chegou a ser.

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