Descobertas células amigas do transplante de fígado
Agora, cientistas portugueses descobriram que uma determinada população de linfócitos - uma das linhas celulares de glóbulos brancos que patrulham o corpo - em certas alturas pode ser activada e suprime as acções imunitárias que ocorrem especificamente no fígado. Estas células podem vir a permitir transplantes do fígado sem risco de haver rejeição.
"Estes linfócitos são imunossupressores e diminuem a acção de outros linfócitos", explicou Luís Graça ao PÚBLICO. O investigador está à frente da equipa de Imunidade Celular no Instituto de Medicina Molecular em Lisboa e é o último autor do artigo que descreve a descoberta, publicado na edição de 16 de Julho da revista científica Journal of Immunology.
As células chamam-se linfócitos NKTreg e as suas propriedades foram descobertas em ratinhos. A equipa estudou o equivalente à esclerose múltipla nestes animais. Já se conheciam linfócitos imunossupressores que regulavam a actividade de outros linfócitos, mas actuavam em todo o corpo. As células NKTreg "têm moléculas à superfície que respondem a estímulos do fígado e vão permitir criar imunossupressão que está restrita a este órgão", disse o investigador.
Marta Monteiro, a primeira autora do artigo, também já mostrou que estes linfócitos existem nos humanos. As possibilidades terapêuticas abrem-se, não só para transplantes directos do fígado, mas também porque há tratamentos de outras doenças, como a produção de insulina para os diabéticos, que podem passar por pequenos transplantes neste órgão.
No futuro, poderá ser possível "utilizar produtos que facilitam a modificação para que estas células adquiram actividades imunossupressoras in vivo", explicou o cientista. Outra alternativa é estimulá-las in vitro e introduzi-las depois nos pacientes.
O processo descrito no artigo e a potencial acção terapêutica já foram patenteados pela equipa. O próximo passo para "tentar perceber se esta descoberta vai ter benefício real para a saúde humana" é constituir uma empresa start up. Segundo Luís Graça, o tempo até que esta terapêutica seja posta em prática "nunca demora menos de sete ou oito anos".