Por razões que a "sociologia do espectador" um dia explicará, Christopher Nolan tornou-se especialista em "rebentar com o tomatómetro do consenso de massas", como se escrevia outro dia no "Village Voice" (e se o leitor não sabe o que é o "tomatómetro" procure os Rotten Tomatoes na Internet). Outro famigerado "tomatómetro", o Top 250 da IMDB, mete 3 filmes de Nolan nos primeiros 30, e "A Origem" está em terceiro... Pois sim. Um "filme sobre sonhos", anuncia-se, e a gente fantasia com um Cocteau americano ou com um blockbuster surrealista.
O que há é um Christopher Nolan inglês, e surrealismo nem vê-lo - pobres devem ser os sonhos de Nolan, tão visualmente enfadonho é o seu filme (que tem muito mais a ver com "second lives" e "third lives", ou com uma existência "em rede", plena de "zeitgeist", a que se tenta atribuir alguma misteriosa "transcendência", se a "sociologia do espectador" não se importar que a gente vá avançando uns tópicos).
Avesso a qualquer noção de "estilo", o filme avança de cenas desinteressantes em cenas desinteressantes, banalmente filmadas e montadas (a única ideia "onírica" tem a ver com uma canção de Piaf, é a melhor ideia e é uma ideia de som) como as de qualquer anónimo "action movie" (muita correria, muito tiroteio), cosendo tudo com uma intriga complicadíssima sobre "implantações" e "extracções" de "ideias".
Dez anos a escrever o argumento, diz Nolan, e mesmo assim, dizemos nós, "A Origem" tem que pôr as personagens permanentemente a explicar o que aconteceu na cena anterior e o que vai acontecer na cena a seguir, como se o filme tivesse integrado um PDF com o manual de instruções (há alguns filmes de "fc" que funcionam assim, mas não se levam a sério um décimo do que "A Origem" se leva: longas explicações sobre "barreiras anti-projecções" e afins, who cares?).
Acaba com um piãozinho a rodopiar, ao género dos cavalinhos brancos do "Blade Runner", para deixar o espectador a "pensar". Ora, tomates. (Donnie Darko, por onde andas tu?).