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Fábula

Goste-se mais ou menos do resultado final, não pode deixar de se respeitar a coerência formal e o bom gosto representativo de "A Teta Assustada", fábula complexa de uma jovem peruana que lida com a morte, com as suas próprias raízes e com as implicações políticas da existência, num mundo em que a diferença constitui estigma. O problema maior (nosso, com certeza) passa pela fórmula adoptada de uma espécie de "realismo mágico", praga literária que se estende não poucas vezes ao cinema, determinando uma visão algo folclórica do real, com uma ritualização que se esgota nas suas componentes.

Dito isto há momentos inesquecíveis, como a função da língua quechua na lógica poética das canções do filme ou os planos orgiásticos de casamentos ou ainda actos quotidianos mínimos, desde as deambulações da protagonista pela casa quase assombrada até à subida das intermináveis escadas para o bairro, a lembrar imaginários templos. Só que é tudo demasiado artificioso para servir a magia de um programa (apetecia dizer cartilha) pré-existente.

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