Não é Visconti quem quer e o milagre de "Sentimento", disseminando o pathos operático pela História e pela complexidade romanesca, não se repete facilmente, de tal modo reflecte uma visão fascinante e irrepetível do mundo. E, no entanto, "Eu Sou o Amor" entendeu a lição do mestre e não se limita a repetir estereótipos decadentistas e neo-barrocos, com a saga familiar de "O Leopardo" em mente, a voz magoada e langorosa de Maria Callas nos ouvidos, e o grande melodrama cinematográfico no olhar - de Visconti a Stahl ou Douglas Sirk, passando pelo quase sempre esquecido De Sica de "O Jardim dos Finzi-Contini", adaptado de Giorgio Bassani, uma referência literária tão incontornável em Luca Guadagnino como Lampedusa. O que faz deste filme uma sedutora revisão (é a palavra) da tradição melodramática é a sua improbabilidade narrativa, a noção da passagem do tempo, da inutilidade do "pastiche". "Eu Sou o Amor" faz todo o sentido, porque sabe que já aparece fora de moda, que se dirige a um paradigma morto, que se compraz num fim de mundo em que tudo mudou e nada muda. Por isso, Tilda Swinton se revela tão magnífica na contradição de uma personagem impossível, presa a uma sensualidade feita de esplendorosas ruínas fílmicas. Como diz David Thompson de "Amar Foi a Minha Perdição" de John M. Stahl, é um filme para se ver em estado febril e, acrescentamos, em melancólico êxtase. De outro modo, arriscamo-nos a uma reacção racional que "Eu Sou o Amor" não comporta.
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