Cerca de 60 por cento das pessoas com excesso de peso considera ter peso ideal
A endocrinologista Isabel do Carmo considera muito elevada a percentagem de pessoas que afirmam ter o peso ideal.
“É a negação da situação, da realidade”, comentou Isabel do Carmo à agência Lusa.
Em termos globais, o estudo, a que a Lusa teve acesso, estima que mais de 40 por cento dos portugueses tenham peso acima do normal.
Isabel do Carmo salienta, contudo, que o estudo foi realizado com base na altura e peso fornecidos pelos próprios inquiridos: “A tendência é para fornecerem mais altura e menos peso, é uma mentira inconsciente. Penso que são resultados menores do que a realidade”.
“Mesmo com este desconto, o quadro é mau e é mais uma razão para as pessoas tomarem medidas e passarem da consciência aos actos. Tomarem medidas em termos de dieta e de exercício físico”, aconselha Isabel do Carmo.
Segundo o estudo, a região de Lisboa é a que tem maior percentagem de pessoas com excesso de peso (34,7 por cento), mas os níveis mais elevados de obesidade são atingidos na zona Centro, com uma prevalência de 13,7 por cento.
No entanto, as cinco regiões apresentam prevalências semelhantes. Todas têm mais de 30 por cento de população com excesso de peso e a obesidade situa-se entre os 8,3 por cento e os 13,7 por cento.
A diferença entre excesso de peso e obesidade é definida pelo índice de massa corporal (relação entre peso e altura).
Alguém com 1,65 m e com 70 quilos terá um índice de massa corporal (IMC) de 26, considerando-se que tem excesso de peso. Uma pessoa com 1,70m e com 85 quilos é já considerada obesa (com IMC a partir de 30).
Quanto à média de índice de massa corporal por região, o Centro e o Alentejo apresentam um resultado de 25,2, o Algarve e Lisboa de 24,8 e o Norte de 25.
Todas as regiões surgem com uma média de IMC muito próxima do excesso de peso.
Os problemas de peso têm uma correspondência directa com os hábitos alimentares dos portugueses, como demonstra o estudo.
Quase metade dos inquiridos diz tomar um pequeno-almoço ligeiro, quando esta deveria ser a refeição mais importante do dia.
Já ao almoço, 20 por cento consome uma refeição abundante e mais de 80 por cento come de forma moderada ou abundante.
Ao jantar, apenas 30 por cento opta por uma refeição ligeira, como é aconselhado pelos médicos, e há mais de oito por cento que come de forma abundante.
O estudo que hoje é apresentado em Lisboa alerta ainda que a população obesa e com excesso de peso sofre de vários problemas de saúde associados à sua condição física: 37,5 por cento dos obesos tem hipertensão e 16,1 por cento sofre de diabetes.
Casados são mais afectadosO estudo mostra ainda que a obesidade afecta mais as pessoas casadas, o que se deve em parte ao abandono da prática desportiva.“Observaram-se diferenças estatisticamente mais significativas na prevalência da obesidade tendo em conta diferentes factores: maiores prevalências nos indivíduos que vivem como casal, que vivem em pequenas cidades e de idade avançada”, conclui o estudo, que no entanto não indica dados estatísticos concretos.
Num comentário a esta conclusão, a endocrinologista Isabel do Carmo explicou à agência Lusa que o aumento da prevalência do excesso de peso entre pessoas casadas pode ser explicado com a desistência da prática desportiva.
“Do ponto de vista clínico surgem-nos muito estas situações: as pessoas casam e deixam de fazer desporto. As pessoas praticam menos desporto, estabilizam mais e fazem mais refeições. E também há o factor da idade, porque a obesidade aumenta à medida que a idade aumenta”, afirmou Isabel do Carmo.
Segundo o estudo de uma consultora científica realizado em Portugal e hoje apresentado em Lisboa, nos homens, o excesso de peso manifesta-se sobretudo entre os 25 e os 30 anos, decrescendo até aos 45 anos, altura em que começa novamente a tornar-se mais prevalente.
No sexo feminino, a percentagem de pessoas com excesso de peso aumenta sobretudo a partir dos 40 anos.
O estudo mostra que o peso influencia a vida sexual, com quase metade dos obesos a afirmar que a sua performance melhoraria caso tivessem o peso ideal.
Também 64,1 por cento dos obesos e 55 por cento das pessoas com excesso de peso julgam que a sua auto-estima e confiança beneficiariam com uma redução de peso.
Metade dos inquiridos do estudo afirmou praticar desporto, mas Isabel do Carmo considera que o número real deverá ser mais modesto.