Islândia acorda no meio de cinzas, inundações e cheiro a ovos podres

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O vulcão situa-se debaixo do quinto maior glaciar da Islândia Jon Gustafsson/Reuters

O vulcão escondido debaixo do quinto maior glaciar da Islândia, inactivo desde 20 de Dezembro de 1821, continua hoje a expelir cinzas para a atmosfera.

O Instituto islandês de Meteorologia informa hoje, em comunicado, que o vulcão continua a expelir cinzas e que a nuvem atinge os quatro a cinco quilómetros de altitude, ocasionalmente mais. “Não há qualquer indicação de que a actividade esteja a diminuir”, acrescenta.

“Esperamos que a erupção continue por dois dias ou mais. Não pode continuar a este ritmo por muito mais tempo. A quantidade de magma que pode expelir é limitada”, comentou Armann Hoskuldsson, da Universidade da Islândia, à agência Reuters.

A erupção ocorreu debaixo do glaciar Eyjafjallajokull, zona do Sul da Islândia muito procurada para caminhadas, a 120 quilómetros da capital, Reiquejavique.

Os habitantes da zona descrevem a cinza como sendo de cor negra e cinzenta e muito fina, semelhante à farinha ou a grãos de açúcar.

Em algumas localidades a visibilidade é muito reduzida. Por isso, a polícia impôs restrições à circulação em várias estradas. “Não se consegue ver nada e ninguém pode ir de carro para lado nenhum porque está tudo escuro como a noite”, comentou Urour Gunnarsdottir, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, citada pelo “The Guardian”.

A Este do vulcão, centenas de hectares de terrenos estão cobertos por uma espessa camada de cinzas. “As cinzas começaram a cair na minha quinta há algumas horas mas a direcção do vento mudou e agora estamos bem”, disse o criador de gado Erlundur Bjornsson, que vive a 95 quilómetros a Este do vulcão. “Há uma cinza que nos entra nos olhos e que cobre tudo. Cheira a enxofre”, contou ao jornal.

Segundo um comunicado do Ministério islandês dos Negócios Estrangeiros, a força da erupção vulcânica “parece estar estável”. As autoridades estão agora a avaliar a acumulação de cinzas nas proximidades do glaciar e a recolher amostras. Além disso, está a ser monitorizado o fluxo de água na lagoa do glaciar. O calor derreteu um terço do gelo que cobria a cratera do vulcão, levando ao aumento do caudal de um rio e a inundações. Cerca de 800 pessoas terão sido obrigadas a abandonar as suas casas.

De acordo com a Protecção Civil, hoje já todos voltaram para casa, à excepção dos moradores de 20 quintas. “Tornou-se claro que as barreiras colocadas conseguiram suster as águas”, explicam as autoridades em comunicado. Durante a noite ocorreu outra inundação que danificou um troço da estrada nacional a Este de Markarflliótsbrú.

A Islândia, ilha com 103 mil quilómetros quadrados no Atlântico Norte, é um país de numerosos vulcões e glaciares. De facto, estes últimos cobrem 12 por cento da sua superfície.

Dos cerca de 130 vulcões activos, apenas uma dezena entra em erupções a um ritmo regular. É o caso do Grimsvoetn e do Hekla, no Sul do país. Nos últimos anos, as principais erupções vulcânicas da Islândia ocorreram em 1996, 1998, 2000 e 2004.

Erupção da Islândia não deverá causar um arrefecimento global

Existem receios “climáticos” mas não passam disso. A nuvem de cinzas ainda é demasiado pequena para abrandar o aquecimento global, como aconteceu em 1991 com a explosão do Monte Pinatubo, nas Filipinas, afirmam os peritos. Este episódio expeliu tantos detritos para a atmosfera que causou um arrefecimento do planeta durante meses.

“Isto não é como o Pinatubo. Até agora, a escala não é significativa o suficiente para ter um efeito global”, comenta Hans Olav Hygen, climatólogo do Instituto norueguês de Meteorologia.

“Por enquanto, esta é uma erupção relativamente pequena”, acrescentou Colin Macpherson, geólogo na Universidade de Durham, em Inglaterra. Este investigador lembrou a erupção do vulcão Laki, na Islândia, em 1783-1784 que causou a morte a centenas de pessoas por toda a Europa.

Os gases vulcânicos expelidos para a estratosfera podem permanecer aí durante 12 a 24 meses e bloquear os raios solares, segundo cientistas do clima na ONU. As cinzas mais pesadas, normalmente, caem no solo – onde podem causar problemas respiratórios, como irritação no nariz e garganta e dificuldade em respirar, e irritação nos olhos – no espaço de três meses.

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