Cenas da vida conjugal dos vampiros

Exuberante sangria, esta, para as personagens de Park Chan-wook, assombradas pela vingança e encontrando a redenção em lagos de sacrifício. Chama-se, aliás, o filme "Thirst: este é o meu sangue". Junta a vibração mais iconoclasta e masculina de "Old Boy" (2003) e a sede de romanesco que encontramos num filme, mais feminino, se quisermos: o melodrama "Lady Vengeance" (2005).Mostra um padre em missão científica e humanitária em África, para testar uma nova vacina contra um vírus mortal. É infectado e... mutação... vampiro.

Aquele que queria salvar os homens vê-se obrigado a atirar-se ao pescoço deles - e dela, a frustrada dona de casa que vai excitar em si um "amour fou".O que se passa aqui? Cenas da vida conjugal de um casal de vampiros: ele torturado pelas dúvidas (entre dois pecados, o de matar os homens e o de atentar contra a sua vida - o suicídio é pecado -, o que fazer?), ela despertando para a sexualidade. Dissemos "Cenas da Vida Conjugal"? De Ingmar Bergman devemos passar a Oshima e ao "Império dos Sentidos"

O que se passa aqui? Um filme intimista e erótico filmado como um épico. Que seguimos de forma acidentada, como sempre nos filmes de Park Chan-wook, que são feitos de vários filmes e géneros. Nunca é seguro que consigamos habitar com a mesma euforia todos esses "acidentes" - balançamos, somos atirados contra a parede, cansamo-nos... Mas a viagem total agarra-nos. "Thirst: este é o meu sangue" é um filme que se recompõe, aliás, quando se olha retrospectivamente e se sossega: personagens, décores, guarda-roupa estiveram ali, afinal, a fazer parte do "corpo" desta experiência mutante. Onde tudo se extinguiu e logo de seguida desabrochou de acordo com as várias vidas e mortes das personagens...

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