Fábrica das Caldas passa de regime de lay-off para novos recordes de produção
"Isto é tudo muito rápido. É a era da Internet. De repente, ficámos sem encomendas e, de repente, temos imenso trabalho. Entrámos subitamente na crise e fomos rápidos a sair dela." Carlos Gouveia, director-geral da Schaeffler, está ele próprio surpreendido com a súbita recuperação da sua fábrica.
Depois de uma queda na produção de quase 50 por cento em 2009, a fábrica voltou aos níveis anteriores à crise e prevê até ultrapassá-los, estimando chegar aos 60 milhões de rolamentos em 2010 (o que constituirá um recorde) e prepara-se já para atingir os 100 milhões nos próximos anos.
Para dar resposta a este acréscimo de procura, a Schaeffler recrutou recentemente 30 trabalhadores para o quadro e mais 30 temporários, subindo a 330 o total de colaboradores. E prepara-se para admitir mais engenheiros e quadros técnicos.
Produzir para exportar
A antiga Rol - como é conhecida nas Caldas da Rainha, há 50 anos - está a produzir para os seus mercados habituais (Europa, Estados Unidos e Brasil) cerca de 80 por cento da produção. O maior cliente é alemão. A BSH Bosch und Siemens Hausgerate incorpora rolamentos made in Portugal nos seus electrodomésticos (desde máquinas de lavar a secadores de cabelo), bombas de água e moto-serras.
Das Caldas vão também rolamentos para as caixas de velocidade de algumas gamas de automóveis da Mercedes e da BMW, bem como para as ventoinhas dos radiadores da Peugeot e Citroen. Curiosamente, alguns países de mão-de-obra barata também são clientes. É o caso da Indonésia (cujas fábricas da Suzuki incorporam rolamentos feitos em Portugal) e da Índia (que absorve 8 por cento da sua produção). Mais: a própria China importa rolamentos da Schaeffler Portugal, que se destinam a fábricas de capital alemão que se deslocalizaram para aquele país.
O segredo deste êxito é um novo produto - um rolamento mais silencioso e mais barato que tem tido grande aceitação e em cuja produção a fábrica das Caldas da Rainha é pioneira. Por outro lado, explica Carlos Gouveia, a Schaeffler lançou uma ofensiva comercial a nível mundial com vista a aumentar a sua quota de mercado, que se tem traduzido num acréscimo de encomendas para a fábrica portuguesa.
O responsável diz que foi muito importante a forma como foi aplicada a controversa lei do lay-off na sua fábrica, que, ao contrário de outras empresas, abrangeu a própria administração e o pessoal administrativo. "Normalmente, as empresas mandam para casa os trabalhadores da produção, mas ficam na empresa o pessoal dos escritórios e os administradores, ou seja, não se poupa nada nos custos fixos. Mas nós, quando decidimos laborar a 60 por cento, entendemos que isso se aplicaria a toda a gente", contou, comentando que não foi agradável constatar na sua própria declaração de rendimentos de 2009 que ganhara muito menos do que em anos anteriores. A verdade é que quando a produção parou dois dias por semana, a empresa não gastava quase nada. O segurança atendia o telefone e recebia o correio e a fábrica estava simplesmente, desligada.
Um controlo rigoroso dos custos e um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Metalúrgica que privilegia a flexibilidade laboral explicam a longevidade desta fábrica, que foi fundada em 1960 por um grupo de empresários caldenses, mas que desde 1996 está em mãos alemãs (há 35 anos detida pela FAG e há cinco pela Schaeffler). Os operários têm um banco de horas, uma espécie de conta-corrente com a empresa que lhes permite usar folgas a meio da semana e, em contrapartida, trabalhar mais quando os picos de produção assim o exigem.
A unidade não tem departamento de marketing, nem comercial nem de comunicação, mas exige-se-lhe que fabrique rolamentos com qualidade e de baixo custo, o que tem vindo a conseguir. Não é, porém, uma típica fábrica cuja competitividade advém dos baixos salários (a Schaeffler é das empresas que melhor pagam nas Caldas da Rainha). Sendo, dentro do grupo, a fábrica que lidera a produção para o exigente mercado europeu, possui tecnologia de ponta e um elevado grau de automatização.