Em Abril de 2009, Jonathan Littell fez uma viagem pela Tchetchénia, território que conheceu bem nos anos 90, quando trabalhava para a organização humanitária Action Against Hunger. O resultado pode ler-se em "Tchétchénie, An III", reportagem de 144 páginas publicada no fim de 2009 pela Gallimard.
Depois do horror de "As Benevolentes" - o romance de estreia de Littell, protagonizado por um nazi -, este é o retrato de "um terror cinzento", "mistura de esquecimento forçado e terror colectivo dominante", "uma atmosfera próxima da Rússia soviética dos anos 1937-1938, durante as purgas estalinistas", resume a revista "Transfuge", no seu número de Dezembro. E, apesar de o autor não ter sido autorizado a aproximar-se do presidente tchetcheno Ramzan Kadyrov, é também o retrato de um ditador que deve o seu lugar aos russos e "nada fica a dever ao monstruoso Max Aue de 'As Benevolentes'".
Em Grozni, a capital tchetchena, há hoje "restaurantes de sushi, grandes supermercados que vendem DVD, lojas de electrónica" e ao mesmo tempo, as pessoas desaparecem até de dia", contou Littell numa entrevista ao "Figaro". A repressão "acalmou em 2007", mas "degradou-se francamente em 2009". Os raptos de civis suspeitos de laços com os rebeldes "são cada vez mais frequentes", "alguns não voltam mais, outros voltam depois de terem sido torturados".
Por exemplo, Alik Dzhabrailov e a sua mulher Zarema Sadoulaeva, que defendiam crianças vítimas da guerra, apareceram mortos. Escreve Littell: "Mataram-no como se esvazia um caixote de lixo, e a sua mulher com ele, talvez porque ela tinha visto de mais. É tudo."
Não se trata da dissecação sanguinolenta de "As Benevolentes", distingue a "Transfuge": "Na Tchetchénia que ele descreve, o mal não vem de um carniceiro mas de um silencioso que mata na indiferança total." E é difícil saber onde está a realidade. "Quem sabe qualquer coisa de real? O real são duas balas na cabeça."