Mulheres agredidas tendem a alhear-se dos problemas dos filhos

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Estudo destrói a ideia de que as mulheres vítimas de violência encontram "compensação" na sua função de mãe Paulo Pimenta

O estudo, da responsabilidade da Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde do Instituto Superior de Ciências da Saúde Norte (ISCS-N), destrói a ideia feita de que as mulheres vítimas de violência doméstica encontram alguma "compensação" na sua função de mãe, assinalou a coordenadora, Alexandra Serra.

"Elas acham que a violência de que são vítimas tem um impacto relativo no seu papel ante os filhos e o esforço que fazem no sentido de manter ou aperfeiçoar as suas competências de mãe é realmente verdadeiro. Mas não é conseguido", explicou à Lusa a principal responsável pelo trabalho.

"Começam a apresentar níveis de perturbação psicológica que não lhes permitem ter as competências maternas de uma forma eficaz", sublinhou.

Ainda de acordo com este estudo, o investimento das mulheres agredidas nas questões sócio-emocionais dos filhos decresce na razão inversa da gravidade dos problemas que os menores enfrentam.

"Como há um menor investimento sócio-emocional, existe uma maior dificuldade em tomar decisões que vão realmente ao encontro das necessidades reais das crianças", explicou Alexandra Serra, que coordena o mestrado em Psicologia Forense e da Transgressão do ISCS-N.

Alexandra Serra assinalou, por outro lado, que quando a mulher agredida apresenta índices elevados de stress pós-traumático, é o próprio interesse em estar com os filhos que "fica comprometido".

"Quando elas estão assim, em estado de desorganização psicológica, perdem inclusive a capacidade de sentir alegria e prazer de estar com os filhos", frisou a investigadora.

As conclusões deste estudo resultam de entrevistas realizadas a 52 mães vítimas de violência doméstica em casas de abrigo, gabinetes de atendimento à vítima e comissões de protecção à criança e jovens em risco.

A Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde do ISCS-N tem vindo a desenvolver, desde 2008, uma linha de investigação sobre o impacto psicológico da violência doméstica nas vítimas, especificamente mulheres (violência conjugal) e crianças (maus-tratos infantis e exposição à violência conjugal).

Entre os aspectos inovadores deste projecto, o estudo colocou o enfoque no modo como a mãe vítima funciona na sua função materna, ao nível do investimento sócio-emocional, um dos aspectos que tem sido negligenciado por muitos trabalhos similares.

As conclusões do trabalho vão permitir, segundo a coordenadora, aperfeiçoar os programas de educação parental, "muitas vezes desenvolvidos a partir de modelos estrangeiros ou teóricos".