Há um par de anos, os Taraf Haidouks lançaram um DVD com a gravação de um concerto em Londres. Entre as muitas histórias rocambolescas que aí relatam está a da venda de cassetes em concertos, nos seus inícios de carreira - os "cachets" eram baixos e eles, para fazerem mais uns trocos, gravavam cassetes que vendiam ao público no fim dos espectáculos. Até aí tudo normal, só que também contam que numa dessas digressões ficaram sem cassetes gravadas, de modo que continuaram a vendê-las sem música lá dentro. Quando um espectador foi reclamar, recusaram a devolução argumentando que sim, a cassete não continha música deles... mas, pelo menos, tinha sido vendida por eles.
É inegável que esta costela de trafulhice também faz parte do espectáculo e do perfume ébrio da música cigana - vem esta história a propósito do novo lançamento da Fanfare Ciocarlia, os arqui-rivais dos Taraf no topo das bandas ciganas romenas de exportação. O formato é exactamente o mesmo: um DVD gravado em concerto, acompanhado de um CD com o respectivo registo áudio. A diferença é que o DVD, gravado ao vivo em Berlim em Abril de 2004, já tinha sido lançado na altura. Ou seja, o que a presente edição lhe acrescenta é apenas um CD com a correspondente transcrição áudio, o que é redundante.
Claro que o "golpe" é da editora alemã, não da banda, mas não deixa de ser uma "ciganada" que tem tudo a ver com a música dos Ciocarlia. Talvez tenha sido pelo melhor, porque o DVD lançado há cinco anos passou despercebido, sendo hoje impossível de encontrar. Faz todo o sentido repô-lo: o concerto é um retrato fantástico da banda originária da aldeia de Zece Prajini, traduzindo esse milagroso paradoxo que é a festa transbordante induzida por uma fanfarra impassível, de um rigor e de uma concentração mais próximos da música de câmara. Leva-se para casa como novo um DVD que saiu em 2004, mais o bónus de um CD que não adianta nada, mas é isso que faz um verdadeiro fã de música cigana.