Belíssima viagem folk

O terceiro álbum dos Espers, nome destacado entre aqueles que Devendra Banhart caucionou na compilação "Golden Apples Of The Sun", dando assim definitiva visibilidade ao que se definiu então como "free folk", não é o que deles conhecíamos antes. Por uma simples razão: sendo mais produzido, mais límpido, não tem as vozes e os instrumentos rodeados pela bruma misteriosa que nos transmitia uma ilusão de ancestralidade.

Se juntarmos a isso o facto de, em "III", as canções, concisas na estrutura, curtas em duração, não se prolongarem em feitiçarias folk, dir-se-á então que os Espers se renderam ao convencional. Não negamos a evidência, mas também não lançamos os braços aos céus bradando "porquê deus meu?", desesperados por vermos perder-se mais uma banda nas garras da "normalidade".

"III" é um grande disco, magnificamente equilibrado entre a gravidade da folk britânica (via Fairport Convention, como nos recorda a voz de Meg Baird) e a liberdade opiácea do psicadelismo californiano (o borbulhante rasto ácido das guitarras desemboca em Barry Melton, mago dos Country Joe & The Fish). É um disco clássico, mas apenas no sentido em que expõe devidamente as referências, outrora transgressoras (ainda transgressoras?), que lhe dão forma: Pentangle, Jefferson Airplane, Amon Düul. O resto, contudo, faz-se do prazer óbvio em procurar nas canções aquilo que as pode engrandecer: os violoncelos zumbindo em "Colony", o mellotron de "Another mood song", o órgão Rhodes vogando com a guitarra indefinida, aquática, de "The road to golden dust", com violinos irrompendo no final e as duas vozes, de Meg Baird e Greg Weeks, a complementar-se na criação deste belíssimo universo onírico para onde os Espers, apesar das formas mais definidas de "III", continuam a transportar-nos.

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