Rua Castilho e Avenida da Liberdade estudam união para criar o bairro da moda
"A Avenida da Liberdade tem um ADN semelhante ao da Rua Castilho, pelo que faria sentido juntar as duas num Lisbon Fashion District, à semelhança do que já existe em Santos ao nível do design [ver caixa]", adiantou ao PÚBLICO Rui Ventura, da agência de comunicação GCI, contratada pelos lojistas da Rua Castilho para criar a marca Castilho Fashion Street.
Segundo Rui Ventura, este projecto de unir as duas artérias comerciais mais caras da cidade "ainda está numa fase de intenções", embora a agência esteja já em contactos com eventuais patrocinadores, nomeadamente da área do grande consumo. A partir de Janeiro, a ideia é abordar os comerciantes da Avenida da Liberdade e também a Câmara Municipal de Lisboa que, juntamente com a União de Associações do Comércio e Serviços (UACS), apoiaram o projecto inicial na Rua Castilho.
Para Vasco Mello, presidente da UACS, aqueles dois arruamentos são "espaços complementares por causa da sua oferta de marcas de prestígio". E a definição de um projecto de promoção conjunta poderia "aumentar a afluência de consumidores".
A ideia parece também agradar aos comerciantes da Avenida da Liberdade. "Acho que faz sentido a criação de um bairro da moda, pois a Rua Castilho e a Avenida da Liberdade assemelham-se", diz Delfina Sousa, gerente da loja multimarca Fashion Concept, salientando que é em épocas de crise que faz mais sentido investir em promoção. "Apesar de tudo, o negócio do luxo é dos que vão resistindo melhor [à recessão]", frisa.
Também José de Castro, gerente da Rosa & Teixeira, diz existir disponibilidade para um projecto conjunto com a Rua Castilho ou qualquer outro que traga "mais valor acrescentado à Avenida da Liberdade". O gerente de uma das primeiras lojas a instalar-se naquela artéria lisboeta diz que a avenida tem vindo a ganhar por si própria o estatuto de rua da moda e que o crescimento só não é maior por causa de um problema: a falta de lojas. "As grandes marcas mundiais querem instalar-se aqui, mas já não há espaços para arrendar", revela.
Vinte marcas, uma ruaLançada oficialmente no último fim-de-semana, a marca Castilho Fashion Street envolveu a realização de concertos, exposições, cocktails nas lojas e sessões de maquilhagem. Para o próximo ano já estão previstas novas acções de promoção, quer no Natal, quer no Dia dos Namorados e também na época de apresentação das novas colecções de moda.
Resultando da associação de 20 marcas, como a Escada Sport, a Maxmara e a Stivali, o projecto significou um investimento avultado. Segundo Manuela Saldanha, gerente da Loja das Meias (a primeira a instalar-se na Rua Castilho, em 1971), os comerciantes gastaram 20 mil euros só com o lançamento da marca e o programa natalício, mas as despesas que cada loja teve com as acções de promoção individuais duplicaram a factura.
"A ideia de fazer a Castilho Fashion Street inspirou-se nas festas das lojas da moda que decorreram em Setembro noutras capitais mundiais, como Madrid, Londres, Paris ou Nova Iorque", explica Manuela Saldanha.
Para Luísa Cunha, uma das sócias da Acerto (que gere as lojas Gerard Darel e Weill), o conceito de fashion street, que se está a tentar implantar em Lisboa,permite aos lojistas ter um produto para promover a própria rua, à semelhança do que fazem os centros comerciais. Esta aproximação entre os "modelos de negócio" destes dois formatos tem sido, aliás, um dos pontos apontados por especialistas para reforçar a competitividade do comércio tradicional.
No último estudo, de Novembro, sobre o retalho de luxo em Portugal, a consultora Cushman & Wakefield referia que o sucesso do comércio de rua em cidades como Londres e Barcelona resulta da adopção das estratégias seguidas por centros comerciais (marketing concertado entre marcas, animações e horários alargados).
Além disso, e já que a rua é o destino preferencial das marcas de luxo, a consultora defendia a aposta na reabilitação do património. Um ponto que o presidente da UACS considera fundamental. "A cidade tem de viver durante o dia, mas, para isso, há que atrair habitantes e empresas", defende Vasco Mello.