Natália Correia Guedes defende regresso a Portugal de obras espoliadas espalhadas pelo mundo
A especialista, ex-directora do Museu do Oriente, e que este ano foi eleita a personalidade do ano pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM), falava perante uma audiência de museológos durante uma sessão de apresentação de novas publicações do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) realizada no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).
A sessão contou com a presença da nova direcção do Instituto dos Museus e da Conservação, liderada por João Brigola, acompanhado pelos sub-directores da sua equipa, Filipe Serra e Graça Filipe. Natália Correia Guedes fez a apresentação do número 3 da revista anual "Museologia.pt" e terminou o seu discurso com um apelo ao novo director do Instituto no sentido de "resolver as grandes questões em curso no sector dos museus".
No final da sessão, em declarações à Agência Lusa, a museóloga deu pormenores sobre o valioso património levado de Portugal no início do século XIX, durante as invasões napoleónicas, e que se encontra actualmente em importantes museus em Paris e noutras cidades francesas.
"No Louvre, existem porcelanas portuguesas, no Museu de Lyon estão colchas indo-portuguesas e no Museu de História Natural de Paris está a nossa melhor colecção de história natural", exemplificou.
Para a museóloga, "é importante lançar a reflexão sobre esta questão de forma a tornar possível a vinda dessas peças, mesmo que temporariamente, para que o público português as possa conhecer".
"O Governo francês está numa fase de generosidade. Têm imensas obras de arte nas reservas dos museus e seguem uma política de descentralização deste património, realizando empréstimos em vários pontos do mundo", indicou, dando o exemplo do pólo do Louvre criado no Dubai.
A museóloga, uma das personalidades mais importantes no sector em Portugal, defende que num momento em que o Ministério da Cultura pretende avançar com o projecto de criar o Museu da Viagem, este seria, no seu entender, um espaço de eleição para receber exposições deste património português espalhado pelo mundo.
"Temos que dar mais atenção ao legado português deixado pelo mundo e que está a ser vendido para outros países com uma identificação diferente da sua origem real. É preciso identificar o que é nosso para o divulgar", apelou.
Citando o caso do recém-criado novo Museu da Acrópole, em Atenas, que considerou um "grito dos gregos" no sentido de reaver o seu património, Natália Correia Guedes comparou a situação dos bens portugueses que se encontram em vários continentes.
"Certamente não podemos exigir de repente que as peças regressem a Portugal mas é tempo de se lançar uma reflexão sobre esta questão e procurar que este património seja mostrado no país, que tem condições para o fazer", advogou.
No seu discurso dirigido à nova direcção do Instituto dos Museus e da Conservação, a especialista defendeu ainda que seja dado apoio aos novos projectos de museus que estão a surgir no país, a reactivação do Instituto José Figueiredo, - "esvaziado de técnicos de restauro e a perder o prestígio que tinha" - a criação de pólos de formação avançada em museologia, o equilíbrio entre a conservação e a divulgação do património existente nos museus, e a entrega de projectos museológicos aos especialistas da área, porque "estão sub-aproveitados".
Na sua intervenção de apresentação das publicações do sector, o director do Instituto dos Museus e da Conservação disse que "o universo dos museus é vasto e complexo" e adiantou que a revista do sector vai continuar, com o ano de 2010 a ser dedicado aos museus da ciência.
Antes do início da cerimónia, a Lusa questionou João Brigola sobre o documento que a Comissão Nacional do Conselho Internacional dos Museus entregou recentemente ao Ministério da Cultura com um conjunto de medidas recomendadas para enfrentar o que consideram ser a "situação difícil" vivida pelos museus em Portugal.
João Brigola comentou apenas que as observações daquela Comissão "vão de encontro às preocupações" da actual direcção do Instituto dos Museus e da Conservação mas remeteu para daqui a algumas semanas o anúncio das estratégias que serão definidas para o sector.