ONU prevê cimeira histórica em Copenhaga

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A capital dinamarquesa prepara-se para receber um encontro histórico Bob Strong/Reuters

Copenhaga poderá ficar marcada como a conferência ambiental da ONU que reuniu mais líderes mundiais. Até sábado passado, estava confirmada a presença de 105 chefes de Estado e de governo, representando 89 por cento da riqueza mundial e 80 por cento das emissões de gases com efeito de estufa, segundo dados divulgados pelo primeiro-ministro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen.

Poucas confirmações faltam para Copenhaga ultrapassar a Cimeira da Terra, que reuniu 108 líderes no Rio de Janeiro, em 1992. A presença dos responsáveis máximos de tantos países - incluindo os mais importantes na questão climática - está a ser vista como um sinal histórico.

"Estou muito optimista", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, numa entrevista ao diário dinamarquês Berlingske Tidende. "Vamos chegar a um acordo, e acredito que este acordo será assinado por todos os membros da Nações Unidas, o que é histórico", afirmou.

A conferência climática de Copenhaga poderá adoptar o esqueleto de um novo tratado para suceder ao Protocolo de Quioto, que obriga os países desenvolvidos a reduzirem ligeiramente as suas emissões de gases com efeito de estufa só até 2012.

Um painel científico da ONU estima que, até 2050, as emissões de todos os países do mundo, somadas, precisam de cair metade do que eram em 1990, de modo a evitar um aquecimento global com dimensões incomportáveis.

Se as negociações correrem bem, o novo tratado será concluído ao longo de 2010. "Com tantos chefes de Estado e de governo juntos, vamos obviamente chegar a um acordo, primeiro um acordo político e, imediatamente depois, um documento legalmente vinculativo", disse Ban Ki-moon.

Ponto de viragem

Mais do que a presença dos líderes, nas últimas semanas diversos compromissos concretos de redução foram avançados por vários países, incluindo os maiores emissores de dióxido de carbono - como a China, Estados Unidos, Índia, Brasil, Rússia e União Europeia (ver infografia). "Em 17 anos de negociações sobre o clima, nunca houve tantas nações a fazerem tantas promessas firmes juntas", disse ontem o secretário executivo da ONU para as alterações climáticas, Yvo de Boer. "Embora ainda haja mais passos a dar rumo a um futuro climático seguro, Copenhaga já é um ponto de viragem na resposta internacional às alterações climáticas", completou Yvo de Boer.

Um acordo político provavelmente incluirá novas metas de redução de emissões para o mundo industrializado. Os países em desenvolvimento, por sua vez, deverão comprometer-se a atenuar a curva de crescimento das suas emissões. Mas exigirão, em troca, ajuda internacional.

Há já uma proposta inicial de cerca sete mil milhões de euros anuais até 2012. "Parece claro agora que as ofertas de verbas para um arranque rápido [do financiamento] envolverão a canibalização de promessas já existentes de auxílio internacional", teme porém Tim Gore, da organização humanitária Oxfam, citado pela agência Reuters.

Para o controlo de emissões, o que já está sobre a mesa pode estar perto do que é desejável, segundo uma avaliação divulgada ontem pelo Programa de Ambiente das Nações Unidas (PNUA). Para limitar o aumento da temperatura global a dois graus até ao final do século, seria preciso limitar as emissões globais a 44 mil milhões de toneladas de CO2 em 2020. Se todos os países levarem a cabo os compromissos mais exigentes que estão a apresentar agora, as emissões seriam de 42 mil milhões de toneladas. "Aqueles que dizem que é impossível um acordo em Copenhaga estão simplesmente errados", disse o líder do PNUA, Achim Steiner, numa conferência de imprensa ontem.

A cimeira mobilizará mais de 15 mil participantes, num número superior ao que se esperava. Por falta de espaço físico, a acreditação de jornalistas foi suspensa e o acesso de membros de organizações não-governamentais vai sofrer limitações.

Copenhaga está também a acolher um grande evento paralelo, o Klimaforum, direccionado para a sociedade civil e organizado por um conjunto de movimentos sociais e ambientais.

A presença dos principais líderes mundiais - incluindo os presidentes dos Estados Unidos, China, Índia, Brasil e os chefes dos governos da União Europeia - e a provável realização de manifestações obrigou as autoridades dinamarquesas a montarem o maior dispositivo de segurança desde a II Guerra Mundial. Cerca de 6000 agentes estão já operacionais, representando mais da metade do efectivo policial do país. A mobilização poderá chegar aos 85 por cento.

As manifestações prometem extravasar além-fronteiras. Já no sábado, 20 mil pessoas participaram numa marcha, em Londres, apelando a um acordo ambicioso em Copenhaga.

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