Vigília em Lisboa apoiou activista sarauí em greve de fome

Vítor Nogueira, porta-voz da Amnistia Internacional - Portugal, disse à agência Lusa que a situação de Aminetu Haidar é "complicada", uma vez que esta cidadã do Sara Ocidental "tem uma úlcera e uma anemia", pelo que está em "grave risco" de vida.

Aminetu Haidar foi detida no aeroporto de El Aaiún, a 13 de Novembro, quando regressava de Nova Iorque, onde recebeu o prémio "Coragem 2009" da Fundação norte-americana Train.

De acordo com a Amnistia Internacional, a activista foi submetida a um interrogatório de mais de 24 horas, sem direito a advogado, tendo depois a polícia marroquina apreendido os seus documentos.

Aminetu Haidar foi enviada de avião para Lanzarote, Espanha, contra a sua vontade, e com o consentimento do Governo espanhol, que agora não permite o seu regresso ao Sara Ocidental por não ter documentação, segundo informações da Amnistia Internacional.

"Isto é uma violação dos direitos humanos. O Governo marroquino não lhe pode tirar os documentos, dizendo que ela renunciou à nacionalidade marroquina porque ela é uma activista pró-sariana", afirmou Vítor Nogueira.

O porta-voz da Amnistia Internacional entende que a resolução deste caso "passa pelo Governo espanhol", porque Aminetu Haidar está em território espanhol e agora sem documentação, pelo que fica "condenada ao exílio sem direito a julgamento".

Jorge Teixeira Lopes, da Plataforma Internacional de Juristas por Timor-Leste, que considera que o problema da independência do Sara Ocidental é "perfeitamente decalcável" do caso de Timor-Leste, recordou que "as Nações Unidas já determinaram que se fizesse um referendo à população do Sara Ocidental, mas até agora ainda não foi realizado porque Marrocos se opõe".

"A comunidade internacional tem de tomar uma posição e pôr de parte alguns interesses políticos e económicos que tenha com Marrocos, fazer um referendo verdadeiramente livre assegurado pela ONU e fazer cumprir a vontade do povo sariano ocidental", disse Jorge Teixeira Lopes.

António Baptista da Silva, da Associação Amizade Portugal Sara Ocidental, disse que "Aminetu Haidar é um exemplo dos muitos casos de sofrimento de um povo que não se pode manifestar sequer" porque, caso o faça, "é sujeito a uma feroz repressão".

"Temo um fim trágico para Aminetu Haidar. Ela é uma mulher muito inteligente, determinada e não vai vergar enquanto não lhe satisfizerem o seu pedido que é apenas regressar a casa para junto da sua família", afirmou à Lusa o activista.

Rabbub Mehdi, médica sariana ocidental há nove anos em Portugal, mostrou-se indignada com a situação de Aminetu Haidar e entende que "o que está em causa é salvar uma vida", sendo que "a única maneira de evitar esta morte é fazê-la voltar a casa, que é tudo o que ela quer".

Na vigília, que contou com a presença de várias organizações de defesa dos direitos humanos, estiveram pessoas de várias linhas políticas, entre elas, José Manuel Pureza, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, e Duarte Cordeiro, líder da Juventude Socialista e deputado na Assembleia da República.

A activista Aminetu Haidar associou-se nos anos 1980 à resistência pacífica contra a ocupação marroquina do Sara Ocidental ocorrida em 1975, ano em que Espanha saiu da zona e em que Marrocos e a Mauritânia a invadiram, tendo este último país reconhecido a independência da República Árabe do Sara Ocidental em 1979.