Andando

Se em "Ninguém Sabe" Koreeda Hirokazu filmava sem vénias, em "Andando" há uma referência (ou uma reverência) óbvia: Yasujiro Ozu. "Andando" praticamente repete a estrutura e as situações narrativas de não-sei-quantos filmes de Ozu ("Viagem a Tóquio", por exemplo), mima-lhe alguns procedimentos (uns pequenos ensaios de "câmara-tatami") e deixa os comboios (no princípio e no fim) assinalarem a citação e reforçarem a auto-consciência. Há uma tipologia e uma psicologia das personagens que são decididamente "actuais" (e é por onde o humor entra), mas não invalidam os sinais de que desta vez Koreeda apontou apenas à miniatura.

Impecavelmente construída, encenada e interpretada (Kirin Kiki, que faz o papel da mãe, é fabulosa), e com pelo menos um par de momentos extraordinários (a cena da borboleta, a cena do disco), mas uma miniatura. Vê-se com imenso prazer, mas era muito mais poderosa, e mesmo muito mais encantatória (e talvez até mais genuína), a aspereza de "Ninguém Sabe".

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