Filme labiríntico e caótico, "Sinedoque, Nova Iorque" resulta sobretudo como um filme de argumentista, com todos os tiques que daí resultam, gerando inúmeras perplexidades: Charlie Kaufman, que aqui faz a sua estreia enquanto realizador, escreveu, entre outros os interessantes "Queres Ser John Malkovich?" (1999) e "Inadaptado" (2002).

Existe, no filme, um lado sedutor, que passa pela artificiosa inscrição de uma peça de teatro no filme, conferindo à primeira meia hora um tom de comédia, em câmara lenta (uma estranha mistura entre pressupostos kafkianos e um anarquismo "marxista" - dos Irmãos Marx) que acaba por se esgotar em retórica e em diálogos forçados e algo incompreensíveis: actores (um elenco de luxo em que avultam Philip Seymour Hoffman, Samantha Morton, Emily Watson ou Jennifer Jason Leigh), personagens e "pessoas reais" parecem cruzar-se num confuso caldeirão de referências.
Mesmo o título (sinédoque é uma figura de estilo que toma a parte pelo todo), se pode com algum esforço aplicar-se ao esquema teatral, no cinematográfico perde força e sentido na amálgama surrealizante, de que nunca entendemos muito bem o objectivo. Fica o relativo interesse do conceito, mas o resultado final deixa bastante a desejar.