Morreu Budd Schulberg, o argumentista de "Há Lodo no Cais"

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Brando em "Há Lodo no Cais", escrito por Schulberg Reuters/Turner Classic Movies

Budd Schulberg, argumentista que ontem morreu em Nova Iorque aos 95 anos, venceu o Óscar por "Há Lodo no Cais", cunhando algumas das falas mais citadas do cinema: "I coulda been a contender, I coulda been somebody", dizia o Terry Malloy de Marlon Brando ao irmão no filme de 1954.

E ficou também conhecido por outro tipo de histórias: aquelas que contou em pleno McCarthyismo, denunciando membros do Partido Comunista (PC) que trabalhavam em Hollywood, e pelo seu papel na II Guerra Mundial, prendendo a realizadora Leni Riefenstahl e fornecendo provas para os julgamentos de Nuremberga.


Casado e com quatro filhos, Schulberg foi também correspondente de boxe para a revista "Sports Illustrated" e, na II Guerra Mundial, integrou uma missão documental com John Ford no âmbito da qual deteve Riefenstahl. As imagens recolhidas pela missão viriam a ser usadas como prova nos Julgamentos de Nuremberga.


Mas foi o guião de "Há Lodo no Cais" e a história de um estivador e lutador de boxe que confronta os sindicalistas corruptos na pele de Marlon Brando que o eternizou. O filme viria a ganhar oito Óscares, entre os quais o de Melhor Filme e Melhor Actor, além do seu prémio pelo argumento.


Guionista, romancista e produtor para a televisão, Schulberg escreveu "Os Desencantados" e "Que faz correr Sammy?", de 1941 (ambos editados em Portugal). Sammy Glick era um retrato arquétipo da ambição americana, um homem que ascendeu, sem escrúpulos, da pobreza ao poder em Hollywood - a crueza desse retrato trouxe-lhe várias ameaças sobre a impossibilidade de voltar a trabalhar na indústria cinematográfica.
Esse romance terá sido a gota de água para a sua saída do Partido Comunista e delação dos nomes de alguns dos seus ex-correligionários. Segundo o livro "Naming Names", de Victor Navasky, quando Schulberg informou o partido de que estava a trabalhar num romance, quiseram ver as provas para avaliar se se trataria de um "romance proletário", como cita o "Los Angeles Times".
Então, o autor terá decidido romper com o partido para "tentar escrever um livro" livremente, como o próprio revelou em 1951 à Comissão de Actividades Anti-Americanas da Câmara dos Representantes. À comissão que escrutinava as ligações à esquerda liderada pelo senador Joseph McCarthy, conhecida pela sua "caça às bruxas" nas décadas de 1940 e 50, terá denunciado cerca de 15 nomes de membros do PC e ex-colegas de Hollywood. Tal como fez o realizador de "Há Lodo no Cais", Elia Kazan.

Schulberg estava desencantado com a disciplina partidária e abandono o partido ao mesmo tempo que o PC determinava a sua expulsão.
"A responsabilidade do escritor é opor-se ao poder", disse Schulberg em 2006 para o seu obituário em vídeo no "New York Times" (secção Last Word, formato de Tim Weiner inaugurado em 2007 com a morte do comediante Art Buchwald) e que está agora online.

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