Jemaah Islamiah, uma rede adormecida que agora acordou
A calma ainda não tinha regressado à capital e já muitos não falavam noutro nome que não o da Jemaah Islamiah (JI, “comunidade islâmica”), um grupo com ligações à Al-Qaeda. É uma organização que nasceu em 1993 na ilha de Java, mas as suas aspirações são bem mais ambiciosas: criar um super-estado islâmico no Sudeste Asiático, incluindo, para além da Indonésia, a Malásia, Singapura, Brunei, Sul das Filipinas e Sul da Tailândia.
Abu Bakar Bashir, o seu fundador, juntamente com Abdullah Sungkar, nunca escondeu a sua admiração por Osama bin Laden. E os atentados em Bali, em 2002, que fizeram mais de 200 vítimas (incluindo dezenas de estrangeiros) e lançaram a fama da JI, podem ser considerados um sinal disso.
Mas a JI não é apenas Bashir. Há muitas células, que estão para a Jemaah Islamiah como as várias ilhas estão para o arquipélago indonésio: dependem da “mãe”, por um lado, mas actuam por conta própria, por outro. Muitas são movidas por elementos mais radicais, que continuam a achar que a violência é o melhor caminho para combater os infiéis, como conclui um relatório recente do Australian Strategic Policy Institute, citado pela Reuters.
“Longe de estarem satisfeitos com os bombardeamentos de Bali e outros ataques do passado [entre 2002 e 2005], referem-se a membros da JI mais velhos como a NATO – No Action, Talk Only”, ou seja, “sem acção, apenas conversa”, lê-se no relatório.
Os vários elementos do grupo que foram recentemente libertados da prisão poderão explicar o novo acordar da JI, cujos membros foram perseguidos pelas forças indonésias, com a ajuda dos Estados Unidos, levando o grupo a ficar inactivo por alguns anos.
Há também quem veja a mão de Noordin Top, líder do grupo mais violento da JI, que anda a monte, “porque seria capaz de fazer pequenos engenhos mas não carros armadilhados”, diz à Reuters Clive Williams, do Centro de Estudos Estratégicos e de Defesa de Camberra (Austrália). “Pelo que vi até agora no Marriott e Ritz-Carlton, parecem ser pequenos dispositivos que ou foram deixados lá, ou foram detonados por bombistas suicidas. Mas o mais provável é que tenham sido lá deixados”.
Os alertasApenas um dia antes do ataque, um relatório australiano previa que uma cisão do JI poderia estar a preparar um ataque, mas que provavelmente não deveria ser capaz de “fazer uma réplica de ataques com grande número de vítimas”.
“De certa forma, isto pode ser um sinal, depois das eleições indonésias, para recordar que a JI ainda está em jogo”, comentou à agência o analista de segurança Rory Medcalf, do Lowy Institute, em Sydney.
Mais antigo foi o aviso do International Crisis Group (ICG). Em Maio de 2007, o ICG alertou que apesar de terem passado dois anos sem ataques, alguns documentos apreendidos mostravam que a organização estava apenas a ganhar tempo. “O JI tem um núcleo sólido que conta provavelmente com mais de 900 membros por toda a Indonésia. É possível que não esteja a crescer, mas mantém raízes profundas e uma visão a longo prazo de criar um Estado islâmico”.
O relatório deste "think tank" para a prevenção de conflitos explicava ainda que, “apesar de a organização da sua ala militar poder ter mudado..., a força da JI mantém-se enraizada numa estrutura de comando territorial, com círculos de estudo religioso de cinco ou seis pessoas”. E concluía: “A JI está numa fase de consolidação, o que significa que é improvável que esteja interessada em grandes e dispendiosas operações que poderão enfraquecer a sua base de apoio... Mas operações que são ao mesmo tempo justificadas do ponto de vista religioso e suficientemente populares para garantir novos recrutamentos não podem ser excluídas”.
Alguns analistas estão ainda a investigar possíveis relações entre a Jemaah Islamiah e jihadistas paquistaneses, levantando a questão se o ataque de ontem foi exclusivamente interno, ou coordenado do exterior, adianta a Reuters.