Philip Roth não é um bicho fácil de adaptar ao cinema e "Elegia" introduz ligeiras alterações na trama da sua novela "O Animal Moribundo", suficientes para fazer os mais puristas clamar ao sacrilégio. Mas são pormenores face à constatação de que, para além de uma portentosa interpretação, está aqui uma adaptação inteligente que sublinha um dos recentes temas Rothianos - o confronto com a decadência do corpo e a morte omnipresente - com elegância e bom gosto, ou não fosse este um filme da espanhola Isabel Coixet, cujos filmes anteriores ("A Vida Secreta das Palavras" e "A Minha Vida sem Mim") têm evitado com sensibilidade as armadilhas do lugar-comum.
É verdade que "Elegia" se conforma ao arquétipo do drama de prestígio sobre as neuroses dos intelectuais nova-iorquinos; é ainda mais verdade que há um certo risco de se cair na telenovela de luxo. Mas Coixet consegue evitá-la de justeza e deixa à solta Ben Kingsley para confirmar como este extraordinário actor parece estar num segundo fôlego digno de registo (depois de "The Wackness", onde o seu psiquiatra charrado era assombroso). O arquétipo do professor universitário pinga-amor que procura adiar o confronto com a morte através dos "affaires" que vai tendo com as alunas ganha carne, sangue, suor e lágrimas através da performance vulnerável e comovente de Kingsley, a quem o destino troca as voltas quando dá por si apaixonado por Penélope Cruz (que, decididamente, só parece sentir-se à vontade com Almodóvar).
Coixet transforma "Elegia", mais do que na história de um romance impossível, na história da solidão desamparada de um homem que descobre "in extremis" o que é que amar quer realmente dizer. E se é certo que sem Kingsley "Elegia" seria um filme menos interessante, é injusto reduzi-lo apenas à sua interpretação extraordinária.