Hortas biológicas de Guimarães criam novos agricultores urbanos
"Aqui somos todos agricultores. Trocamos sementes, legumes e flores e gozamos o prazer de cultivar a terra", contou Cristina Pereira, operária de calçado desempregada e "dona" de um canteiro na Horta Pedagógica de Guimarães.
A horta está situada na Veiga de Creixomil, a 100 metros de um hipermercado e num dos terrenos outrora mais férteis e cultivados do concelho e onde quase só existiam silvas e ervas. Por cinco euros anuais, os candidatos ficam na posse de uma parcela de terreno de 50 metros quadrados, apenas com a única obrigação de a cultivarem.
Couves, favas, ervilhas, batatas, cebolas, maracujás e meloas, tomates e pepinos, há de tudo no terreno em que a câmara de Guimarães também oferece a água para a rega.
"No mercado municipal já se deve notar um quebra na venda dos legumes tal é a quantidade de legumes que se colhem na horta", frisou Avelino Pereira, encarregado geral de uma empresa de calçado e agricultor aos sábados e domingos.
O colorido dos legumes e flores semeados, faz das pequenas hortas um enorme jardim.
"Não percebia nada de agricultura quando me candidatei à horta mas depois de comer as primeiras alfaces que semeei, as ervilhas e as favas, percebi que tinha um agricultor dentro de mim", disse Avelino Teixeira, um tipógrafo encadernador reformado.
"Eu só trato das flores e tenho muitas e bonitas", salientou Arminda Teixeira, esposa de Avelino, que obrigou o marido a ceder-lhe parte do espaço.
"São pessoas que querem cultivar um terreno pelo prazer de lidar com a terra e não exactamente por necessidade", frisou Costa e Silva, o vereador dos Serviços Urbanos e do Ambiente na câmara de Guimarães.
As primeiras hortas começaram e ser cultivadas em Outubro de 2008 mas, menos de um ano depois, não há espaços vagos e a variedade de legumes e hortaliças surpreende.
"Há pessoas que vêm para aqui passear só para nos verem a trabalhar. Até parece que estamos numa jaula a ser observados como se fossemos uma espécie em vias de extinção", brincou um juiz, que esquece as leis nas horas vagas e troca o martelo das audiências pela enxada.
"É uma terapia para o stress e que leva a grandes discussões científicas como por exemplo, qual é a melhor semente de pepino", disse uma enfermeira do hospital de Guimarães que sai do emprego e vai, a pé, até à sua horta. "Ando descalça, tiro ervas daninhas. Converso com as plantas e hoje, estive a colocar estacas nos tomates", contou a enfermeira.
O projecto inicial previa espaços maiores mas o número de candidatos ao aluguer de terrenos fez com que ao tamanho das hortas fosse 'reduzido'.
As primeiras candidaturas foram de um grupo de economistas. Depois juntaram-se operários, médicos, professores, enfermeiros, reformados e juízes. Mas a diferença de profissões não interfere na agricultura. "Ó vizinha, dá-me um pezinho de salsa e eu dou-lhe um pé de pepinos", pediu um agricultor de fim-de-semana. "Podia era dar-me uns pezinhos de alface para plantar", reclamou a 'inquilina" do terreno ao lado. Negócio feito, o cultivo continua.
A ideia essencial passa por incentivar a prática da cultura biológica, permitindo à população um contacto com a natureza e uma melhor consciência ecológica.
A utilização de fertilizantes está sujeita à apreciação prévia dos serviços técnicos do pelouro do ambiente.
Integrado no projecto HiperNatura Continente, o conceito de hortas pedagógicas custou 600 mil euros. "É uma forma de participar activamente na preservação e na revitalização da natureza urbanas ", finalizou Miguel Rangel, da empresa promotora do projecto.