A expressão "A Zona", mais do que ser o título do filme e a designação da unidade de cuidados intensivos nele retratada, também podia ser uma maneira de anunciar o cinema de Sandro Aguilar. Uma "zona" que várias curtas-metragens foram delimitando e definindo e que, aqui, na primeira longa, encontra uma topografia e uma temporalidade mais abrangentes - mas a obstinação é a mesma, e o caminho é o mesmo, sem desvios (também se pode dizer que todas as curtas de Sandro Aguilar vão dar à "zona"). "Tarkovskiano"? Eventualmente, como descrição aproximativa de um universo contraído pela impossibilidade da sua tradução psicológica. Mas onde Tarkovski encontrava a "metafísica" (mesmo em sentido religioso) como ponto de fuga e explicação derradeira corresponde aqui apenas uma intensificação da "física" - corpos sem nome, que se tocam ou não se tocam, vivos ou moribundos, em todo o caso condenados a existirem enquanto "sinais de vida" (toda a maquinaria médica).Como se vê por uma planificação que decompõe o mundo em unidades ínfimas e austeras, estamos num cinema que se decide pelo desejo do "controlo absoluto" (e só perde alguma força quando, como na sequência da festa, alarga o crivo que exerce esse controlo). Está nisto a diferença fundamental entre Sandro Aguilar e Miguel Gomes, o "Lennon" e o "McCartney" da geração de 70 do cinema português.
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