Impõe-se o aviso prévio: muna-se deestômago para entrar na "Zona", nãoparta do princípio que vai ver umanarrativa convencional. SandroAguilar sabe o que quer fazer e fá-losem ceder um milímetro; isso nãoquer dizer que nós saibamos o que eleestá a fazer e essa é parte integrantedo que é tão fascinante em "A Zona".
O filme recusa qualquer narrativalinear, quase não tem diálogo,constrói-se todo à volta deambientes, atmosferas, memóriasinteiramente construídas através doagenciamento meticuloso de imagense sons, numa espécie defantasmagoria surreal, ora hipnóticaora aquática, deixando ao espectadoro trabalho de atar as pontas.É inevitável pensar no "Stalker" deTarkovski (pelo título, pelo modocomo alguns planos invocamdeliberadamente a sua herança), maspodíamos também estar do outro ladoda Black Lodge do Lynch maisexperimental, ou evocar o formalismoglacial e meticuloso de Kubrick("2001" e "Shining" vêm à cabeça).Mesmo depois de uma segundavisão que nos confirmou que "A Zona"é uma das mais arrojadas e irredutíveisprimeiras obras do cinema português,o que aqui se passa continua a escapara definições simplistas, é umaexperiência de tal modo radical ediferente que não sabemos muito bemcomo defini-la ou recomendá-la.Repetimos, por isso, o aviso: se o quequer é um filme "normal", nemsequer se chegue próximo da "Zona".Mas, se gosta de desafios, entãodificilmente encontrará melhor filmeeste ano.