Lagos: Índios da Meia Praia pedem requalificação dos bairros onde vivem há 40 anos

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Estão autorizados 8 projectos de hoteis de luxo para a Meia Praia Nuno Jesus (arquivo)

O primeiro hotel de luxo a abrir na Meia Praia já este sábado, às 20:00, é o Vila Galé Lagos, um quatro estrelas superior dedicado ao mundo da moda e com cerca de 30 milhões de euros investidos pela segunda cadeia hoteleira mais importante do país.

Em declarações à Lusa, o autarca de Lagos, Júlio Barroso, adiantou que estão na calha mais sete hotéis no âmbito do Plano de Urbanização da Meia Praia (PUMP), sendo dois deles projectos Potencial Interesse Nacional (PIN).

Os hotéis de luxo são vistos com agrado pelos habitantes do típico Bairro 25 de Abril, mas o presidente da Associação de Moradores apela ao autarca de Lagos para que em vez da desactivação progressiva do bairro se aposte numa requalificação do bairro dos pescadores em pólo turístico.

"Vemos com bons olhos o aparecimento de empreendimentos hoteleiros, porque traz mais investimento para a nossa zona e emprego, mas como isto é uma aldeia típica e antiga, a Câmara devia preservar o local e transformá-lo num ponto turístico a visitar", defendeu José Bartolomeu, presidente da Associação de Moradores da Meia Praia.

Segundo José Bartolomeu, o presidente da Câmara de Lagos devia "pôr olhos na aldeia, que tem quase 40 anos e onde há pessoas muito antigas a viver, e devia transformar o local num sítio a visitar".

Júlio Barroso disse à Agência Lusa que foi decidida a desactivação progressiva dos bairros da Meia Praia, contudo alega que "está tudo em aberto" e que a hipótese de uma requalificação dos bairros dos pescadores pode ser viável.

"O que está lá não honra Lagos, nem o país, mas a vida é uma dinâmica e não descarto a hipótese de requalificar os bairros", disse.

Além do Vila Galé Lagos, cujas obras exteriores estão a ser ultimadas esta semana para a inauguração no dia 25 de Abril, e com a provável visita do primeiro-ministro José Sócrates, está também em construção na Meia Praia o Iberohotel de cinco estrelas e que deverá terminar obra em Abril de 2010.

Os projectos PIN Palmares - com um aldeamento turístico, um hotel e o campo de golfe - e o Meia Praia Baia Resort - constituído por um hotel, um suite hotel e um apartotel - estão ambos previstos abrir em 2012.

Com o Hotel Meia Praia (antigo Hotel Azul), também do grupo Palmares, e o Hotel "New Paradigme" estão previstos um total de oito unidades hoteleiras no PUMP.

A Câmara de Lagos aprovou recentemente o plano de pormenor na zona da estação de caminho de ferro e está previsto ainda para a zona da Meia Praia outros dois empreendimentos de investidores espanhóis.

No Bairro 25 de Abril há cerca de 50 casas com anexos e cerca de 220 pessoas a viver nelas, mas uma parte dos habitantes - a segunda geração dos índios da Meia Praia - já partiram para bairros nos arredores da cidade de Lagos.

"Os novos vão embora e ficam os velhos. Esta comunidade vai deixar de existir se não deixarem fazer obras nas casas ou se não existir uma requalificação amiga do ambiente", alerta o índio da Meia Praia, José Bartolomeu.

Manuela Rosa, 60 anos e há 41 anos a viver ao lado do mar da Meia Praia não concorda em ter que largar a sua casa e diz que dali não sai para nenhum apartamento.

"Tenho problemas de pernas, não posso subir escadas", riposta sentada numa das cadeiras do Café Larita, o único do bairro, onde há bolos frescos e sumos Caprisone e onde se pode jogar às cartas e bilhar.

Também Pedro Romão, um "índio de segunda geração", demonstra desagrado em estarem a separar a comunidade piscatória.

"Não tem jeito nenhum, separarem-nos e porem-nos em apartamentos", lança atrás do balcão do Café Larita.

Os índios da Meia Praia foram cantados pelo músico José Afonso, que lhes dedicou uma canção.

Inicialmente a população vivia em barracas de colmo e depois passou para casas de tijolo erguidas após o 25 de Abril com dinheiros do Estado português a fundo perdido através do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local).

O Plano da Urbanização da Meia Praia foi aprovado em Julho de 2007 pelo Governo, uma medida que veio permitir a construção de hotéis de quatro e cinco estrelas naquele areal.

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