Preparem-se que é uma invasão. Começa lá longe, nas Ilhas Britânicas, agora que os Spandau Ballet anunciaram o regresso aos palcos da formação original. Depois de anos de costas voltadas, com processos de tribunal e muita maledicência pelo meio, foi, apesar de anunciada sem confirmação nos últimos tempos, uma relativa surpresa.
Recorde-se a história. Alguns anos depois do fim da banda que deu ao mundo "True", "Gold" e os trapos exuberantes que a transformaram numa das figuras mais representativas da vaga dos "novos românticos", Tony Hadley, o vocalista, Steve Norman, o saxofonista, e John Keeble, o baterista, decidem processar o guitarrista e compositor Gary Kemp, exigindo o pagamento de direitos autorais. Argumentavam que tinham estabelecido um acordo de cavalheiros com Kemp através do qual seria garantida uma divisão justa de "royalties".
Estávamos já em meados dos anos 1990, quando a glória dos autores de "Instinction" há muito se desvanecera, e o tribunal não demorou a decidir a favor do guitarrista. Para piorar a situação, o trio injustiçado, preso a dívidas, viu-se obrigado a vender as suas participações na empresa que geria as actividades dos Spandau Ballet. Como resultado, andámos anos a ver passear-se pelo planeta uma banda que, apesar de só tocar canções dos autores de "To cut a long story short", respondia pelo nome pouco memorável de "Hadley, Norman and Keeble, ex- Spandau Ballet".
Perguntar-se-á agora o que os levou a fumar o cachimbo da paz e anunciar um regresso aos palcos que se concretizará com uma digressão britânica, marcada para Outubro? A resposta não está no fumo, está nos copos. Isso. O pessoal, que agora enverga fatos de executivo respeitável, meteu-se num pub para ver se havia hipótese de reconciliação e, surpresa, "foi como se vinte anos não tivessem passado", segundo relatou Tony Hadley ao "Independent".
A questão das "royalties"? "Assunto privado", responde o "management" perante o sorriso de regresso triunfal que vemos agora na cara feliz dos elementos do grupo - afinal, a data para Londres, lá longe em Outubro, esgotou em minutos e obrigou à marcação de mais um concerto. "Foi como se vinte anos não tivessem passado", disse então Hadley. Certíssimo. É esse pensamento que passará pelas mentes de muitos foliões daqui a alguns meses, quando estiverem gloriosamente embriagados de euforia nostálgica. Os Spandau Ballet não têm confirmado nenhum concerto em Portugal, mas nada há a temer. Se não podemos ir aos anos 80, os anos 80 vêm até nós. Dúvidas?
Há umas semanas, demos aqui notícia do segundo "Lisbon Calling", festival de uma noite que trouxe o ano passado ao Pavilhão Atlântico Meat Loaf ou os B 52''s. A edição 2009, marcada para 9 de Junho, contará com a presença dos Madness, dos The Tubes, dos Foreigner, esses mesmos, os do cabelo armado em permanente tão inesquecível quanto o imortal single "I wanna know what love is".
Antes deles, e enquanto esperamos pela confirmação dos restantes nomes em cartaz, terá lugar, também no Pavilhão Atlântico, um festim. Intitulado "Here And Now Lisboa 2009", acontece a 29 de Maio e traz a Portugal um verdadeiro "quem é quem" das glórias dos topes de há duas décadas e meia.
Os concertos "Here And Now" acontecem regularmente mundo fora, ideia de uma empresa que reúne um catálogo de nomes para contratação que, depois, conforme as agendas ou especificidades da cidade ou país de acolhimento, são reunidos em pacote pronto a fruir. Em Lisboa, será coisa de peso: os ABC e Kim Wilde, elegantes como outrora, Belinda Carlisle e Nik Kershaw, dignos veteranos, os Curiosity Killed The Cat, naturalmente enrugados, e um Rick Astley, estrela recente no YouTube, que parece não ter envelhecido um ano desde que fulminou adolescentes de 1987 com a voz tão poderosa quanto era de puto a face que se via no teledisco de "Never gonna give you up".
Já sabemos que o revivalismo dos anos 1980 segue em bom ritmo há quase uma década, mas isto agora é diferente.
Invasão! Mas há dúvidas?