The Spirit

O mestre da BD Frank Miller disse que aceitou ser ele a escrever e dirigir a adaptação cinematográfica da personagem criada pelo seu mentor, Will Eisner, porque não se perdoaria se fosse outra pessoa a fazê-lo e desse cabo do filme. A questão, agora, é saber se Miller se perdoa a si próprio por ter dado cabo do filme - porque "The Spirit" é um desastre tanto maior quanto tudo neste filme malfadado transpira o carinho e a paixão do homem que reinventou Batman na década de 1980 pela criação atípica e adulta de Eisner.


Mas na tentativa de respeitar as "amplitudes térmicas" da BD original, que ia do policial negro ao burlesco descartável (mas não forçosamente na mesma história), Miller esqueceu-se de oferecer ao espectador algo a que se agarrar para lá do deslumbrantemente hiper-estilizado chiaroscuro digital, na linha da adaptação por Robert Rodriguez das suas histórias da "Cidade do Pecado" (actores e adereços reais incrustados em cenários digitais, com a imagem retrabalhada em pós-produção). A sensação é de estarmos a ver três histórias diferentes em três tons diferentes, compactadas às três pancadas num filme que parece nunca saber como as ligar a contento e acaba por se perder numa demonstração de virtuosismo visual cuja ausência de sustentação narrativa chega a ser confrangedora, e onde nem as prestações gloriosamente maníacas de Samuel L. Jackson e Scarlett Johansson em vilões de opereta se salvam.

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