Augusto Santos Silva: "está em curso uma tentativa de assassinato político e moral de José Sócrates"

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Augusto Santos Silva considera que está a decorrer actualmente, com o caso Freeport, uma campanha negra contra Sócrates, que é um "assunto de Estado" Rui Gaudêncio/PÚBLICO

Tal como o primeiro-ministro, Augusto Santos Silva considera que está a decorrer actualmente, com o caso Freeport, uma “campanha negra” contra Sócrates e contra o PS – que indicou ser “um assunto de Estado” – e que é um “conjunto organizado e sequencial no tempo de fugas de informação e violações do segredo de Justiça que têm por objectivo criar uma nova operação de suspeição em redor do primeiro-ministro”. “Está em curso uma tentativa de assassinato político e moral de José Sócrates”, opinou.

Na sua opinião, o Partido Socialista tem sido, nos últimos anos, um alvo preferencial de campanhas e cabalas: “Isto está sempre a acontecer ao PS. A cabala da Casa Pia em 2003, a campanha negra de 2005 e os poderes ocultos de 2009”. “Já assisti, em 2003 e 2004, a uma tentativa de decapitação do PS e essa tentativa frustrou-se; o PS ganhou as eleições europeias de 2004 e ganhou as eleições legislativas de 2005”, disse.

“Em 2003, apurou-se uma parte importante da verdade: aqueles que foram crucificados na praça pública não tinham absolutamente nada a ver com os crimes infames de que foram acusados. Sabemos o que aconteceu em 2005 porque o caso foi julgado. Em 2009, a procuradora Cândida Almeida já afirmou que solicitou uma investigação”, acrescentou o ministro, recordando que “O MP já disse que o primeiro-ministro não é suspeito, nem está sob investigação”.

O Freeport e os “poderes ocultos”

O ministro dos Assuntos Parlamentares indicou, sobre o caso Freeport, que as notícias que vieram a público logo em 2005 e que levantaram suspeitas sobre a actuação do primeiro-ministro e do PS foram orquestradas por inimigos políticos: “Sabemos agora as condições em que foram fabricadas as denúncias supostamente anónimas que levaram a que fosse produzido um documento que, violando o segredo de Justiça, foi publicado em ‘O Independente’ dois dias antes das eleições de 2005. Sabemos quem são as pessoas associadas a essa operação política e que foram e são adversários políticos do PS”.

Questionado sobre a identidade dos responsáveis pela actual “campanha negra” contra José Sócrates, Augusto Santos Silva disse não saber responder a essa pergunta, preferindo usar a expressão “poderes ocultos”.

“[O PS ] não tem poderes para dar ordens ao Ministério Público e à Polícia Judiciária [para combaterem esses ‘poderes ocultos’] e deve respeitar a autonomia dessas autoridades”, acrescentou, indicando que nem sempre o PS é o alvo dessas cabalas, relembrando as buscas em directo nas televisões ao escritório do social-democrata Luís Nobre Guedes.

“Nenhuma democracia pode aceitar que se desenvolvam campanhas negras tomando como alvo os principais responsáveis do país”, indicou ainda.

A “maioria está ao alcance”

Acerca das eleições legislativas, que ocorrerão este ano, Augusto Santos Silva mostrou algum optimismo: “Os indicadores demonstram, há meses, que o PS está consistentemente na fronteira dos 40 por cento. A maioria está ao alcance”. “Não vejo outra maneira de garantir a estabilidade política de que o país precisa do que a renovação da maioria do PS”, sublinhou.

Questionado acerca da possibilidade de uma coligação pós-eleitoral caso o PS não obtenha a maioria, o ministro respondeu que “não existe a figura do amuo quando o povo não satisfaz as pretensões dos partidos”. “Primeiro: queremos renovar a maioria. Segundo: aceitaremos qualquer resultado do eleitorado”, acrescentou.

Acerca da calendarização eleitoral, o ministro esclareceu que “as eleições locais e as eleições nacionais não devem realizar-se no mesmo dia”.

Questionado sobre a possibilidade de surgimento de um novo partido que reúna o BE, sindicalistas ex-PCP e os votos de Alegre no PS, o ministro admitiu que isso “seria um factor de preocupação para a estabilidade política em Portugal”, mas acrescentou que “esse cenário não se coloca”.

“Malhar” é forte

Sobre as suas recentes declarações em que assumiu gostar de “malhar” na direita, o ministro esclareceu que “a expressão ‘malhar’ é forte”, mas que ela foi “usada em sentido figurado e num determinado contexto de debate político”. “Eu usei o verbo ‘malhar’ no sentido de bater no cereal para debulhar e debulhar significa libertar o grão das impurezas para depois fabricar o pão. Se calhar não devia aplicar o verbo ‘malhar’ à actual liderança da Direita ou aos partidos que se gostam de dizer à esquerda do PS porque não se percebe que grão pode sair dali para alimentar os portugueses”.

Governo não hesitará em nacionalizar

Acerca da nacionalização do BPN, Augusto Santos Silva indicou que o Governo não hesitará em voltar a fazer o mesmo numa situação semelhante: “A nacionalização do BPN foi uma situação limite para resolver de imediato um problema de risco de cessação de pagamentos, risco dos depositantes verem as suas poupanças em perigo e risco de contaminação para todo o sistema financeiro. Se houver circunstâncias semelhantes, estou certo de que o Governo não hesitará em responder com os instrumentos legais que estão ao seu dispor. Nenhum governo poderá afirmar que não usará o instrumento da nacionalização”.

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