Em 1928, Walt Disney estava numa situação difícil. Enquanto trabalhava para Charles Mintz, pediu um aumento do orçamento para a animação Oswald the Lucky Rabbit. Além de ver o pedido recusado, foi-lhe dito que iriam cortar o financiamento em 20 por cento, lembrando-lhe que quase toda a sua equipa tinha sido contratada por Mintz e que não detinha os direitos autorais da personagem. Disney recusou a proposta de Mintz e concordou em apenas terminar a primeira temporada da série.
Foi durante este período que Mickey viu a luz do dia. Ub Iwerks, um dos poucos que se manteve leal a Disney, desenhou a personagem, sem saber que estava a criar o pilar fundador sobre o qual o império Disney se haveria de erguer. Chamaram-lhe... Mortimer Mouse. Felizmente, a mulher de Disney convenceu-o a mudar o nome para o bem mais catchy Mickey Mouse.
Ub Iwerks foi, de facto, quem desenhou Mickey, mas foi Disney quem lhe deu uma personalidade e, até 1946, voz. Segundo reza a história, ter-se-ia inspirado num rato que teve como animal de estimação para criar o seu carácter.
John Hench, que pintou os retratos oficiais de Mickey para o seu 25º, 50º e 60º aniversário, vê na personagem uma projecção de Disney. “Mickey era, definitivamente, o alter-ego de Walt. Como Mickey, Walt era optimista - tinha muita fé em si próprio e, claro, Mickey também tinha muita fé em si próprio - enfrentava gigantes. Mickey parecia uma pessoa real.”
“A vida e aventuras do Rato Mickey têm estado ligadas à minha vida pessoal e profissional. É compreensível que eu tenha uma ligação sentimental com a pequena personagem que desempenhou um papel tão grande no rumo que as produções Disney e tem sido alegremente aceite como um amigo divertido, onde quer que os filmes sejam projectados por todo o mundo. Ele ainda fala por mim, e eu falo por ele”, chegou a afirmar Walt Disney.
Começo atribuladoO primeiro desenho animado de Mickey chamou-se
Plane Crazy
. A história era simples. Mickey quer tornar-se piloto de avião, constrói um e convida Minnie para dar uma volta. O resto podem ver aqui ao lado (vídeo).
No segundo filme, The Gallopin' Gaucho, surge pela primeira vez João Bafo-de-Onça, eterno inimigo de Mickey e que o iria acompanhar toda a sua vida. Contudo, apesar da aposta que fez, Disney não conseguiu encontrar um distribuidor disposto a apostar num rato como figura animada para nenhum dos filmes.
Este interesse reduzido viria a conhecer uma reviravolta com o terceiro filme, Steambot Willie, lançado a 18 de Novembro de 1928, que ficou marcada como a data de aniversário de Mickey. Apesar de não ter sido o primeiro desenho animado com banda sonora, foi o primeiro a ter o som sincronizado com a acção do filme. A utilização que fez do som foi um dos trunfos para o seu sucesso e levou Disney a fazer o mesmo para os dois filmes anteriores. Este foi o salto decisivo para Mickey Mouse que, progressivamente, se foi tornando numa figura mundialmente conhecida.
A 16 de Fevereiro de 1931, a revista Time dizia: “Grande amante, estudioso, soldado, marinheiro, cantor, toureiro, maquinista, jóquei, pugilista, piloto de carros, aviador, agricultor. O Rato Mickey vive num mundo em que espaço, tempo e as leis da física são nulas. Ele consegue entrar dentro da boca de um touro, arrancar os seus dentes e usá-los como castanholas. Ele consegue liderar uma banda ou tocar solos de violino; a sua ingenuidade não tem limites; ele nunca falha.”
Máquina de fazer dinheiroFoi em 1929, com
The Karnaval Kid
, que Mickey pronunciou as suas primeiras palavras pela boca de Disney - “Hot dogs, hot dogs!” e, nesse mesmo ano, ganharia as suas luvas, em
The Opry House. Só dez anos mais tarde voltariam a observar-se mais alterações à fisionomia de Mickey, quando passou a ter pupilas nos olhos e o corpo em forma de pêra. As orelhas, essas, tornaram-se na sinédoque máxima, não só de Mickey, mas da empresa Disney.
Mickey Mouse passou a aparecer em todo o lado: desde pulseiras de diamantes a pequenos brinquedos de um dólar. Só em 1933, foram vendidos 900.000 relógios e dez milhões de gelados do Mickey e, em 1934, a Disney já ganhava mais de 600.000 dólares por ano em lucros provenientes de filmes e merchandise.
Descrito muitas vezes como uma mistura jovem de Fred Astaire com Charlie Chaplin, Mickey sobreviveu à passagem do tempo devido ao trabalho de Walt Disney que, apesar de viver do fantástico, tinha os pés bem assentes na terra. “Sentimos que o público, especialmente as crianças, gostam de animais que são engraçados e pequenos. Acho que temos uma dívida para com Charlie Chaplin pela ideia. Queríamos algo apelativo, e pensámos num pequeníssimo rato que teria algo do “querer” de Chaplin – um pequeno amigo a tentar fazer o melhor que consegue. Quando as pessoas se riem do Rato Mickey é porque ele é tão humano; e esse é o segredo da sua popularidade. Só espero que não percamos de vista uma coisa – que tudo começou com um rato.”