Peritos da Unesco avaliam em breve candidatura de geoparque de Arouca

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A candidatura foi apresentada em finais de Agosto passado Manuel Roberto (arquivo)

A candidatura do Geoparque Arouca à Unesco foi apresentada em finais de Agosto passado e acolhida numa primeira fase. Uma equipa internacional de avaliação, em finais de Dezembro ou inícios de Janeiro de 2009, irá apreciar a viabilidade da pretensão, revelou o coordenador científico do projecto, Artur Sá.

De acordo com este docente na Universidade de Trás-os-Montes e investigador do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra, os peritos internacionais, além da componente científica, irão avaliar toda a estrutura organizativa e de gestão, que ficará confiada à AGA - Associação Geoparque Arouca, criada propositadamente para esse fim. "Será uma estrutura com as pessoas e para as pessoas", sustentou o coordenador científico, frisando que "não é para ser um parque de diversões para geólogos", mas para contribuir para o desenvolvimento das populações locais, do concelho e da região.

O Geoparque Arouca, que corresponde à área administrativa do concelho de Arouca, com uma extensão de 330 quilómetros quadrados, é reconhecido pelo seu excepcional património geológico de importância internacional, nomeadamente pelas trilobites (fósseis de animais marinhos que viveram há milhões de anos - no Ordovícico Médio) gigantes de Canelas, pelas "pedras parideiras" da Castanheira, os icnofósseis do Vale do Paiva, e a Frecha da Mizarela, uma das quedas de água com maior desnível na Europa. As "pedras parideiras", que revelam um fenómeno geológico único no mundo - segundo Artur Sá -, são nódulos negros de biotite, um mineral, encrustados numa matriz granítica, que pelo efeito da erosão saltam da rocha.

Para além de constituírem um fenómeno científico único, quer na sua formação, quer na "expulsão" devido à erosão, às "pedras parideiras" está associado um misticismo ancestral, ligado à fecundidade, ainda vivo nas populações locais, e chegaram a ser encontradas numa mamoa - um monumento funerário megalítico. São outras atracções as explorações mineiras da região, de ouro, antimónio, estanho e tungsténio, em alguns casos exploradas desde a época de ocupação romana da Península Ibérica, e que se integram no importante distrito mineiro Dúrico-Beirão.

II Guerra Mundial

Uma das singularidades a evidenciar são as antigas minas de volfrâmio de Regoufe e Rio de Frades que durante a II Guerra Mundial foram exploradas por ingleses e alemães, que só tinham uma montanha a separá-los, e que chegavam a utilizar o mesmo troço de caminho para transportar o minério que utilizavam no fabrico do armamento com que se guerreavam, acrescentou.

Além de constituir uma área de investigação para geólogos, o Geoparque pretende ser um espaço gerador de iniciativas económicas, pela via da promoção de actividades turísticas, que poderão englobar vertentes ligadas à fruição da natureza, à gastronomia, cultura popular ou desportos radicais. A intenção, segundo Artur Sá, é mobilizar as populações locais para o projecto, e nesse sentido uma das vertentes a acentuar é a educativa. Os promotores tem vindo a realizar acções de sensibilização junto de escolas da região, e pretendem levar os alunos a desenvolver também acções de campo.

Idêntica estratégia pretendem desenvolver em escolas nas províncias espanholas da Galiza e de Castela e Leão, para despertar a atracção das populações fronteiriças. O Geoparque Arouca é um projecto que começou a ser desenvolvido em Dezembro de 2005. Terá uma sessão de apresentação pública na conferência lusófona de geocientistas a decorrer segunda e terça-feira na Universidade de Coimbra.

Nesse evento internacional Artur Sá pretende divulgar as etapas que antecederam a candidatura à Unesco, tendo em vista a partilha de conhecimentos, em especial para os participantes brasileiros. O Brasil tem o único geoparque da América do Sul, o de Araripe, com 10 mil quilómetros quadrados, no Estado do Ceará, e no país "há uma onda para criar outros geoparques", explicou Artur Sá.