Dorival Caymmi, o papa da canção baiana, morreu aos 94 anos
Nascido em Salvador da Bahia, a 30 de Abril de 1914, numa família que cultivava o gosto pela música (o pai, funcionário público, tocava piano, violão e bandolim e a mãe gostava de cantar), Dorival cursou Belas-Artes e tentou o jornalismo antes das primeiras composições, em 1933 e de começar a cantar no Rádio Clube da Bahia, em 1935.
Dos anos depois, tentou a sorte no Rio. Queria retomar o jornalismo (que iniciou no Imparcial, na Bahia, em 1929) mas a música impôs-se. Apresentado na Rádio Tupi, a sua voz grave e quente valeu-lhe um contrato. E valeu-lhe outras coisas: foi ali que conheceu a sua futura mulher, a cantora Stella Maris (juntos, teriam três filhos, todos eles com carreira futura na música: Nana, Dori e Danilo Caymmi); e foi daí que ganhou fama, quando uma canção sua, “O que é que a baiana tem?”, foi “adoptada” por Carmen Miranda.
A história, contada por Ruy Castro no livro “Carmen” (Ed. Palavra, 2007), é simples: faltava uma canção para o filme “Banana da Terra” (1938), porque Ary Barroso quis vender um original caro de mais. Como alguém ouvira Caymmi cantar na rádio, convenceram-no a gravar a sua voz e enviaram a gravação à cantora. Ela não gostou, mas quis ouvi-lo ao vivo, em sua casa. Ele foi. E a canção acabou imortalizada, ao estilo de Carmen.
Nas décadas seguintes, embora de produção propositadamente lenta, Dorival compôs pouco mais cem canções, muitas delas imortais: “Samba da minha terra”, “É doce morrer no mar” (parceria com Jorge Amado, outro baiano célebre, falecido em 2001), “Maracangalha”, “Marina”, “Modinha para Gabriela” (que Gal Costa cantava na célebre telenovela brasileira), “Doralice”, “A vizinha do lado”, “Acalanto” ou “Você já foi a Bahia?”
Muitas vozes o cantaram e era alvo de um culto carinhoso entre os músicos. Teve inúmeras distinções e prémios. A sua morte foi uma perda sentida em todo o Brasil.