Smile

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Cada novo álbum, quer se baseie num conceito pré-determinado ou num simples estado mental, corresponde a uma experiência sonora diferente (e assinale-se que já editaram perto de duas dezenas de discos desde que se formaram, no início dos anos 1990). "Smile", sucessor em nome próprio de "Pink", o disco que os elevou a respeitadíssimo fenómeno underground (entre um e outro editaram algumas colaborações), corresponderá à fase "convencional" de uma banda que resgatou nome a uma canção dos Melvins e que os Sunn0))) citam como referência. É um álbum de corrosão eléctrica, de excesso decibélico, de catarse rítmica. Os riffs têm o soluçar violento de uma metralhadora e solos que planam como bombardeiros sónicos acelerando em direcção ao cérebro do ouvinte. Nele, ouve-se algo como Jimi Hendrix, depois de uma boa dose de anfetaminas, liderando os Motorhead do ex-roadie Lemmy Kilminster ("Statement"). Ouvem-se jams tão celestiais quanto as dos Floyd de "Meddle" – e nós transportados naquela serenidade, e nós, num repente, esventrados por turbilhões eléctricos que são os Black Sabbath, demoníacos, dançando na lava de um vulcão em erupção (com as letras em japonês acentuando a sensação de habitarmos território desconhecido). Em "Smile" existe shoegaze construído com gravilha sonora e caixa de ritmos roufenha e, logo a seguir, uma voz harmoniosa preenchendo (quase) todo o espaço sonoro – quase porque, em fundo, assistimos à cavalgada da banda, que, com som cada vez mais alto, cada vez mais distorcido, cada vez mais Acid Mother's Temple, acabará por tomar conta da canção ("Ka Ra Ha Te Ta Sa Ki No Ones Grieve"). "Smile" faz-se deste jogo de contrastes e faz-se de um trabalho sobre ruído que é todo ele intuição e jogo de memória – estas canções são aquilo que, no calor da sala de ensaios, sobra das memórias dos discos de Melvins, Black Sabbath, Motorhead, Comets On Fire ou Blue Cheer. Digamos que os Boris incineram o rock para que das labaredas nasça algo de regenerador.

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